O problema grave, que ainda acontece nos campos brasileiros, revoltou o produtor Vilmar Scherer.
– Olhem aqui autoridades brasileiras, produtores rurais, donos de empresa! Olhem o adubo falsificado que chega na propriedade do produtor rural. Olhem aqui o que acontece com ele! Olhem um agricultor ser trapaceado – exclama o agricultor.
A imagem diz mais do que qualquer palavra e explica a revolta do agricultor Vilmar Scherer. Ele planta pouco mais de mil hectares de soja em Vera (MT), município onde as lavouras do grão devem ocupar 143 mil hectares nesta safra. Já semeou toda a área e agora está de olho no desenvolvimento da plantação, mas não consegue tirar da cabeça o prejuízo que teve no ano passado.
O problema é a montanha de adubo que há um ano permanece ensacada no campo. São 40 mil quilos. O produto deveria ter sido usado para melhorar o solo e o rendimento da lavoura, mas, na hora da aplicação, um funcionário percebeu que havia algo de errado com o insumo. Desconfiado, o agricultor enviou o produto para análise. O resultado comprovou a fraude.
Vilmar Scherer entrou em contato com a empresa que vendeu o insumo. Ela realizou novas análises, que também confirmaram a falsificação. O passo seguinte foi a tentativa de acordo com a fornecedora do produto, que fica fora de Mato Grosso. Como não houve sucesso, a história foi parar na Justiça.
Infelizmente, casos como o do agricultor não são raros, segundo entidades que representam o setor. Por isso, a orientação dos especialistas é para que os produtores tornem hábito o recolhimento de amostras de adubo para análises em laboratórios especializados e de confiança.
A dica pode ajudar o produtor a se proteger de golpes parecidos, já que o fertilizante representa um dos principais componentes dos gastos com a lavoura.
– O impacto é muito grande, todo produtor do Cerrado sabe que adubo equivale a 40% dos custos. O agricultor deveria periodicamente analisar o produto, para ter certeza do que vai jogar na lavoura – diz Áureo Lantmann, consultor da expedição Soja Brasil.
Mas a atenção dos agricultores não é a única maneira de evitar situações como esta. Para o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, é preciso reforçar a fiscalização e punir os criminosos.
– Infelizmente, a “burrocracia” que temos no Brasil protege a máfia dos fertilizantes. Eu já falei isso no Ministério da Agricultura, que é uma vergonha a nossa fiscalização. Em Mato Grosso temos apenas dois fiscais, sem apoio, sem verba. No Brasil, o consumidor é que é o culpado, a lei está para proteger bandido – opina Silveira.
Enquanto o caso de Scherer não é solucionado, o agricultor calcula os prejuízos. Apenas com a compra do fertilizante foram R$ 50 mil reais. E as perdas foram muito além.
– Perdi produtividade. As médias caíram de 58 para 52,15 sacas por hectare. Isso corresponde a 8 mil sacas de soja – diz Scherer.