Escola rural de São Paulo se mantém através de doações e aposta em uma metodologia alternativa de educação

Colégio funciona a partir de doações e é administrado por um grupo de monges que recebe apoio de moradores da comunidade localA Escola Bhakti, localizada entre a zona rural e a periferia de Franco da Rocha, um dos municípios mais violentos de São Paulo, vem chamando a atenção devido ao programa educacional multidisciplinar e ao trabalho social que realiza com crianças e jovens carentes.

O colégio funciona a partir de doações e é administrado por um grupo de monges que recebe apoio de moradores da comunidade local. Todos os professores e funcionários são voluntários. A merenda é doada pela prefeitura e as contas são pagas através da venda de livros feita pelos monges. Dessa forma, a instituição mantém quase 80 estudantes em turno integral e oferece quatro refeições diárias.

Um dos diferenciais da escola é a organização, que se dá através da ideia de “servir ao outro”. Os alunos são ensinados a ajudar os colegas e a colaborar com os funcionários. Cada um, por exemplo, deve lavar sua louça. A metodologia de ensino também não parte de matérias prontas, mas da própria curiosidade dos alunos, que escolhem como desenvolver os conteúdos.

Grande parte dos estudantes vêm de realidades que incluem violência doméstica, extrema pobreza ou tráfico de drogas.

– Sempre que outros colégios têm algum aluno com problema de aprendizagem, eles indicam para vir aqui para a escola, porque temos a oportunidade de trabalhar melhor com eles. Esses alunos chegaram com problemas sérios, não só de aprendizagem, mas também de identidade, de família e de sociabilização – explica o coordenador pedagógico Prana Natha.

Para iniciar a mudança com esses jovens, todos ganham novos nomes, baseados em pensamentos e personalidades positivas. Gananry é uma dessas crianças. Filho de uma família desestruturada, ele vivia mais tempo na rua do que em casa ou na escola. Aos 11 anos, mal sabia ler e escrever, mesmo matriculado na quinta série. O Conselho Tutelar da região o considerava como um dos mais complicados casos de indisciplina, falta de sociabilização e dificuldade no aprendizado.

– Na outra escola eu era muito bagunceiro e estava na lista preta. Quando vim para cá, aprendi muitas coisas – afirma o menino de 12 anos.

–  Hoje ele já desenvolve os próprios projetos, já lê, escreve e pesquisa. Essa semana mesmo ele ficou até as nove horas da noite sozinho, pesquisando no computador e nos livros para fazer seu trabalho – acrescenta o coordenador.

A situação é semelhante a de David e de Jhol.

– Antes eu não conseguia aprender direito porque os professores não ensinavam muito bem, aí eu vim para cá e acabei me desenvolvendo e aprendendo melhor – diz David.

– Aqui ensinam mais coisas, lá tinha povo que usava drogas, aqui não tem isso – afirma Jhol.

O foco dos estudos são em projetos interdisciplinares. Os alunos estruturam seu trabalho a partir do conteúdo que escolhem. Para aprender ciências, por exemplo, eles criam uma horta. Para a disciplina de português, elaboram um projeto de revista. Além das matérias convencionais, eles também se envolvem com atividades como caratê, natação e religião.

– Uma criança que se prepara para o esporte tem muito pouco tempo para observar possíveis vícios – explica o professor de caratê João Batista.

O resultado de tanto empenho é visto na mudança de comportamento e de ambição dos alunos. É o caso de Adi Gopi, de 15 anos, que deseja manter o projeto vivo:

–  Ainda não tenho muitos planos, mas pretendo dar aula nessa escola.