O fórum reuniu representantes do governo, do setor de transportes e da indústria, que debateram as principais dificuldades previstas para o escoamento, que incluem a falta de estrutura nas rodovias e os problemas relacionados à nova legislação ao motorista.
Um debate é em relação à lei 12.619, adotada pelo governo em julho deste ano, que determina que o trabalho diário dos caminhoneiros não exceda 10 horas, e que a cada quatro horas de direção, o motorista descanse 30 minutos. Depois de manifestações, o governo prorrogou o início da fiscalização para fevereiro do próximo ano.
O diretor da Associação do Transporte Rodoviário de Carga do Brasil, Rogério Martins, expõe as insatisfações com a lei, referentes à falta de estrutura nas estradas e à possível perda da produtividade:
– Existem rotas em que o caminhão roda quatro, cinco, seis horas e não tem o mínimo ponto de parada. Não estou falando de posto de combustível, mas de um simples acostamento na beira da rodovia. Além disso, se você for aplicar a legislação, fizemos um teste e percebemos que os caminhões perdem aproximadamente 30% da produtividade. Isso afeta tanto o faturamento do caminhão na empresa como na remuneração do motorista. Está difícil manter o mesmo quadro de motoristas em função da aplicabilidade da lei – considerou.
O secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) , Fábio Trigueirinho, alerta para a perda de parcelas da safra:
– Nos últimos cinco anos, não tivemos movimento significativo nas estruturas de transporte. Estamos operando com as mesmas estradas esburacadas de sempre, hidrovias com pouca capacidade, com 5% de movimentação, e trens no limite. Como falta armazém, a confusão pode ser muito grande: produtos que podem ficar sem condições de armazenamento e transporte. Podemos perder uma parcela da safra em um momento de preços excepcionais.
Em julho deste ano, o setor teve uma amostra da falta de logística adequada. A safrinha do milho superou todas as expectativas e alcançou 60 mil toneladas. Com os silos ocupados ainda com a soja da última safra e a falta de caminhões, toneladas de milho ficaram expostas a céu aberto. A situação acabou sobrecarregando também as ferrovias, que já estão no limite da capacidade. É justamente este o cenário que aguarda o início da colheita da soja.
– Não fizemos a lição de casa nos últimos cinco anos, então vamos pagar a conta agora, e se o frete dos alimentos subir, ele será repassado ao consumidor. Pelo lado da exportação, vamos ter que remunerar os produtores com valores inferiores aos habituais, no caso de aumento do frete – destacou Fábio Trigueirinho.
O coordenador-geral de planejamento da Secretaria Nacional de Política de Transportes do Ministério dos Transportes, Luiz Carlos Rodrigues Pinheiro, disse que o governo está ciente dos problemas de logística e que vem agindo em relação a isso. Ele não especificou quais medidas serão tomadas, mas afirmou que algumas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) devem estar prontas já na próxima safra.
– Algumas medidas já vão ser necessárias. Recentemente, tivemos oportunidade de discutir com o MAPA e a SNA medidas emergenciais da movimentação de grãos da região Centro-Oeste, algumas imediatas – disse.
Produtores e a indústria esperam que o governo, ao menos, reavalie a legislação antes da safra.
– Se não conseguirmos sensibilizar o governo a rever e prazo da lei, teremos uma situação de caos na logística, que será muito ruim para o país e para o agronegócio – observa Trigueirinho.