— Esta é a segunda menor área implantada com trigo nos últimos 110 anos — afirmou o presidente da Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro), Carlos Garetto, sobre os 3,6 milhões de hectares cultivados com o cereal em 2012/2013. Em 2009/2010 haviam sido 3,2 milhões de hectares e em 2011/2012, 3,6 milhões de hectares.
Nos últimos anos, o governo tem controlado as exportações, o que deprime os preços internos. Neste ano, a limitação dos embarques do cereal ao exterior se deve à necessidade de assegurar o abastecimento interno para não pressionar a inflação, já que os argentinos colherão menos cereal. Até o momento, o governo disse que só vai permitir a exportação de 4 milhões de toneladas de trigo.
— Este ano foi o primeiro em que decidi não plantar trigo porque os controles prejudicam a minha rentabilidade — afirmou à Agência Estado o produtor Santiago Del Solar Dorrego.
Segundo ele, a intervenção oficial no mercado de trigo faz o agricultor se voltar para outros cultivos de mesma liquidez e com menor intervenção governamental. Ele comentou que, “como fornecedor do Brasil, a Argentina tem interesse de manter as vendas de trigo ao mercado, mas sem uma previsibilidade por parte do governo em meio a problemas climáticos não é possível arriscar a produção”.
Dorrego mostrou-se pessimista com alguma possibilidade de mudança nas regras oficiais que possam estimular o produtor.
— A queda da superfície vem caindo nos últimos sete anos do governo kirchnerista e essa é uma tendência até que mude algo — afirmou.
Investimentos
As preocupações com o trigo foram manifestadas pelas quatro principais instituições representantes do setor – Federação Agrária (FAA), Confederações Rurais (CRA), Confederações Intercooperativas (Coninagro) e a Sociedade Rural (SRA). Um estudo realizado pela associação de empresários agropecuários CREA, divulgado na semana passada, mostrou que o setor investiu 235,632 bilhões de pesos (cerca de US$ 48,6 bilhões, considerando o câmbio atual de 4,85 pesos por dólar), entre julho de 2011 a julho de 2012, na produção agropecuária da Argentina.
O valor é 27% superior ao investido no período prévio e resultou em uma produção de 150 milhões de toneladas de produtos agrícolas, incluindo frutas, de pecuária e de florestas. Considerando as atividades individualmente, em agricultura extensiva, por exemplo, o aumento do gasto e do investimento foi de 35%, equivalentes a 94,710 bilhões de pesos. Na pecuária, a expansão dos investimentos em pecuária de corte foi de 22% (101,6 bilhões de pesos), enquanto que em pecuária leiteira foi de 30,1% (20,3 bilhões de pesos). Os recursos para os demais cultivos aumentaram 18,1%, equivalentes a 19,7 bilhões de pesos.
— Embora tenhamos aumentado os investimentos, o balanço do ano é ruim porque os investimentos foram feitos com endividamento e com muitas incertezas — disse à Agência Estado o presidente da FAA, Eduardo Buzzi, que reúne pequenos e médios produtores.
— Para as pequenas empresas e as economias regionais os resultados são catastróficos, especialmente para alguns segmentos, como os de leite, azeitonas, uvas e outros — afirmou Buzzi.
Na entrevista coletiva dos quatro representantes das instituições, o presidente de Confederações Rurais, Ruben Ferrero, estimou que 2013 será um ano de conflitos entre o setor e o governo e não descartou protestos.
— Esse confronto pode ser evitado se o governo convocar a um diálogo. Não temos dúvidas de que se nossas reivindicações não têm resposta, vamos ter um 2013 bem movimentado — disse Ferrero.
Ele destacou que o diálogo com o governo está absolutamente fechado em meio a problemas graves para os produtores, como as inundações em algumas regiões e estiagem em outras; perda de competitividade com o câmbio defasado e vários outros problemas.