Foram dias seguidos de chuva e apreensão. Sem condições de colheita, algumas lavouras já dessecadas começavam a apresentar sinais visíveis de comprometimento. Grãos ardidos, avariados e até casos de germinação dentro das vagens.
– Isso é um grande problema, porque a soja começa a brotar dentro da vagem e tudo isso é prejuízo para o produtor – diz Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja-MT.
Mas como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança. Basta o sol mostrar a cara para que um desfile de colheitadeiras ganhe vida em Sapezal, oeste de Mato Grosso. Os agricultores correm para recuperar o tempo perdido e é claro, evitar maiores prejuízos.
– Tivemos cinco dias de chuva, e agora queremos correr para garantir a qualidade dos grãos e a janela ideal da safrinha de algodão – fala Valdeir Alves Pereira, coordenador de fazenda em Sapezal.
Na fazenda em que Pereira trabalha, 500 hectares de soja vão ceder espaço para o algodão safrinha, que precisa ser plantado até o fim de janeiro. Com a trégua da chuva, os trabalhos ganham ritmo. E quando surgem alguns contratempos, como um pneu furado, o jeito é estender ao máximo a jornada. O negócio é colher a maior área no menor tempo possível.
– Se o tempo dá brecha vamos até as 9, 10 horas da noite colhendo, ou até a hora em que tiver caminhão disponível – diz Pereira.
Nesta safra foram plantados mais de 366 mil hectares de soja em Sapezal. O município é dono da quarta maior área cultivada com o grão em Mato Grosso e está no topo do ranking da colheita no Estado.
Esta liderança é consequência do plantio antecipado das lavouras mais precoces, o que aconteceu entre os meses de setembro e outubro. Mas também é reflexo direto da grande estrutura das fazendas da região. Em uma delas, por exemplo, são 32 colheitadeiras trabalhando ao mesmo tempo, o que garante muita agilidade na hora de retirar a produção do campo.
É máquina para todo o lado. Enquanto uma vai para o serviço, a outra despeja os grãos que logo vão deixar a fazenda sobre rodas. O cenário impressiona. É tanta colheitadeira que chega a ter congestionamento.
– Enquanto falta caminhão ficamos na fila até que o caminhão chegue e possamos despejar – fala o operador de máquinas Galvan Avrela.
A sincronia quase perfeita das atividades é acompanhada de perto pelo produtor Carlos Webler. Ele plantou 12,6 mil hectares de soja, dos quais 8 mil são precoces. Para cumprir o cronograma, é preciso eficiência.
– Tem que correr, não pode perder tempo. A gente estima colher 500 hectares de média por dia. Tem vez que colhe mais. Outras, por causa da chuva, colhemos menos – falas Webler.
A colheita na fazenda teve início no final de dezembro e ficou interrompida durante as seguidas chuvas que caíram na região em janeiro. Por enquanto, a produtividade média é de 54 sacas por hectare. Um bom rendimento segundo o agricultor, que espera concluir a colheita das lavouras precoces e o plantio do algodão safrinha até o fim deste mês.
– Estávamos ansiosos para o tempo abrir. Vamos ver se recuperamos o tempo perdido – diz Webler.