Produção de trigo para biscoito se torna oportunidade no campo

Oferta da variedade ficou reduzida e abriu espaço para nicho de mercado no Rio Grande do SulCom o incentivo dado no país à produção do trigo tipo pão, destinado à panificação, a matéria-prima para a bolachinha do café da tarde - trigo tipo brando - ficou mais rara e agora se transforma em oportunidade. Atender a essa demanda da indústria, com produção anual de 1,2 milhão de toneladas, virou um nicho de mercado para os produtores.

O avanço do trigo pão nas lavouras foi resultado do incentivo dado por agricultores e governo federal ao cultivo da variedade – a indústria de panificação é responsável por cerca de 60% do uso do cereal no Brasil -, como forma de reduzir a dependência do produto vindo da Argentina. Com isso, a produção do trigo brando perdeu espaço no território nacional.

No entanto, houve quem aproveitou para se especializar no fornecimento da matéria-prima para a produção de bolachas. Um exemplo é a Cooperalfa, cooperativa com base na região oeste de Santa Catarina, onde cerca de 4,5 mil famílias produzem 10 mil toneladas de trigo brando por safra, vendidas às indústrias de biscoitos.

– Desde os anos 1980, nossos cooperados produzem trigo brando. Já é uma característica da região. Por causa disso, buscamos clientes nesse mercado. Com o incentivo para a produção do trigo pão, vimos na redução da matéria-prima uma chance de crescer – ressalta Julio Bridi, supervisor do moinho da Cooperalfa.

Apenas 10% da produção do país é do tipo brando

No Rio Grande do Sul, ainda não existem cooperativas organizadas com este foco. Conforme dados da Embrapa Trigo, nos últimos sete anos, o número de cultivares de trigo brando disponíveis no mercado brasileiro diminuiu de 60% para 6%. O chefe-geral da instituição, Sérgio Dotto, avalia que apenas 10% da produção do cereal no país é da variedade para as indústrias de biscoitos e bolachas, que tem menor força de glúten (conjunto de proteínas que auxiliam no crescimento da massa do pão).

– Com o tempo, a tendência é de que este se torne um mercado dirigido, sob encomenda. O produtor pode destinar uma pequena parte para este segmento – salienta Dotto.

No forno

Apesar da diferenciação, o reflexo ainda não deve ser sentido nos preços. O mínimo estipulado pelo Ministério da Agricultura para o período entre julho de 2012 e julho de 2013 é de R$ 30,06 a saca de 60 quilos para a variedade pão, enquanto o brando, que se divide em básico e doméstico, varia de R$ 20,85 (básico) a R$ 25,02 (doméstico).

A força de glúten (proteínas que ajudam o pão a crescer) é a principal diferença entre as duas variedades:

O trigo brando tem força de glúten entre 160 a 200, enquanto o trigo pão tem entre 230 a 280.

A produção brasileira anual de biscoitos e bolachas é de 1,2 milhão de toneladas.

O consumo de biscoitos dos brasileiros tem média de 6,5 quilos por habitante ao ano. Os preferidos são para biscoitos recheados (30% do total) e crackers/água e sal (25%).

O segmento de biscoitos e bolachas representa 50% do valor das exportações com derivados de trigo, com receitas que chegam a US$ 75 milhões por ano. Os principais destinos desses produtos são Angola, Paraguai, Estados Unidos e Uruguai.

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