Um imenso chapadão verde no Alto da serra Geral. É ali, a mil metros de altitude, no município de Formoso (MG), que está sediada a Coopertinga. A cooperativa tem 20 mil hectares de lavouras, sendo 14 mil de soja, e é considerada a única remanescente das 22 que foram financiadas com recursos do Japão entre os anos setenta e noventa, quando o país estava preocupado com a oferta mundial de alimentos.
No início da década de setenta, o governo dos Estados Unidos embargou provisoriamente as exportações de grãos e farelo, visando garantir o abastecimento interno. A medida colocou em alerta o Japão, que dependia exclusivamente do produto norte-americano. Diante disso, os japoneses começaram a incentivar o cultivo de soja e milho em novas fronteiras agrícolas. No Brasil, a parceria ficou conhecida como Prodecer – Programa de Desenvolvimento do Cerrado, e ajudou a alavancar a atividade em regiões como esta do noroeste mineiro.
O programa, dividido em etapas, oferecia créditos para a compra de terras e insumos com as menores taxas de juros do mercado. A ideia era ajudar a transformar o Cerrado no que ele é hoje, um celeiro de alimentos, dando oportunidade para novos agricultores.
– O Prodecer que mudou nossas vidas – diz o produtor rural Irineu José Balbinot.
Balbinot foi um dos beneficiados. Hoje, possui uma área de 900 hectares toda diversificada. Os cafezais irrigados ocupam 90 hectares e estão em plena produção com colheita prevista para junho. Também há espaço para um pomar de laranjas, com 30 mil pés. Mas o carro-chefe ainda é a soja. São 750 hectares, que nas últimas safras têm produzido em média 55 sacas por hectare.
A atual prosperidade do negócio, porém, esconde a grave crise financeira enfrentada pelo agricultor e pelos demais associados da cooperativa nos últimos anos.
As inúmeras mudanças nos planos econômicos multiplicaram as dívidas e ajudaram a acabar com o programa. Mas não foi só isso. Outro agricultor lembra que os japoneses impunham algumas exigências. Entre elas, uma contrapartida do governo brasileiro, que deveria garantir a infraestrutura das regiões atendidas pelo programa. E isso nem sempre saiu do papel.
A dívida total dos cooperados ultrapassou os R$ 200 milhões. Até conseguir renegociar o passivo, há dois anos, a cooperativa ficou estagnada. Aó voltou a crescer após a prorrogação dos débitos, que serão pagos em um prazo de 10 anos.
– No período de estagnação a cooperativa só conseguia buscar crédito para os produtores, não realizava nenhum outro investimento – fala o vice-presidente da Coopertinga, Juliano Guimarães.
Enquanto acompanha o desenvolvimento de mais uma safra de soja, Balbinot afirma que a união do grupo foi o segredo para evitar que a Coopertinga tivesse o mesmo desfecho das outras cooperativas financiadas pelo Prodecer.