Só as vendas interestaduais foram multiplicadas por quatro desde 2008. Boa parte são terneiros e animais jovens levados para confinamentos. O principal destino é São Paulo e o comprador, a JBS, que não abate bovinos no Estado.
Para o consultor Fernando Velloso, da FF Velloso & Dimas Rocha Assessoria Agropecuária, além da disposição de parte da população em pagar mais por um produto superior, a busca de gado angus, hereford e cruzas se deve ao movimento dos frigoríficos de substituição das importações do Uruguai e da Argentina. Velloso calcula que, incluindo o ICMS na venda interestadual e o frete, os frigoríficos estariam pagando um custo adicional de 20% sobre o valor do animal. Pelo preço dos cortes nobres, o investimento parece valer a pena.
– Essa carne vai para marcas de linhas premium – exemplifica Velloso.
Depois de um recuo em 2011, as exportações de gado em pé cresceram 165% em 2012. Segundo Velloso, é reflexo de entraves a vendas externas impostas pelo governo uruguaio. Assim como no país vizinho, a saída de animais para abate é motivo de discórdia entre produtores e indústria. Para pecuaristas, é uma forma de conseguir preços melhores devido à pouca concorrência de frigoríficos.
– Se aqui se paga entre R$ 3,10 e R$ 3,20 (o quilo) pelo boi gordo, na exportação chega a R$ 3,50, R$ 3,60 – ilustra Max Soares Garcia, presidente da Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte-Sul.
Em São Borja (RS), um grupo de produtores se reuniu para vender animais das raças angus e hereford para confinamento em outros Estados. O criador Cristiano Ruschel Freitas confirma a tendência de um preço maior neste tipo de negociação com as indústrias.
– Vendemos em média dois mil animais por mês – salienta.
Para o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado (Sicadergs), Ronei Lauxen, a situação prejudica a economia gaúcha. O número de 85,5 mil animais levados do Estado em 2012, estima, equivale ao abate anual de três frigoríficos médios. Assim, seriam cerca de 800 empregos diretos perdidos. A evasão também contribuiria para a ociosidade de cerca de 30% do setor no Estado, além de diminuir a disponibilidade de insumos para o setor coureiro-calçadista, fábricas de rações e produtos pet. Se fossem abatidos no Estado, seriam gerados cerca de R$ 4 milhões em ICMS, projeta.
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