Índios continuam no canteiro de Belo Monte apesar do fim do prazo para desocupação

Clima no local é tenso. Policiais e militares monitoram situação a distânciaCerca de 150 índios continuam ocupando um dos três canteiros de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Segundo a assessoria do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), o clima no local é tenso. Policiais federais, militares e da Força Nacional monitoram a situação a distância, à espera de uma decisão judicial sobre o cumprimento da ordem de despejo.

De acordo com a assessoria do consórcio, além de terem se apossado de cinco ônibus e dezenas de rádios-comunicadores e bloquearem rotas de fuga em caso de emergências, os índios agora estão ameaçando atear fogo em dois caminhões-basculantes que encheram de papel e galhos. A equipe de controle e combate a incêndio foi reforçada e oito caminhões-pipa estão estrategicamente distribuídos. Cerca de quatro mil funcionários que vivem em alojamentos construídos no interior do canteiro Sítio Belo Monte se encontram no local ocupado desde a madrugada da última segunda, dia 27.

O prazo de 24 horas para que os índios deixassem o local pacífica e voluntariamente, estipulado pela Justiça Federal na terça, dia 28, terminou na quarta à tarde. Horas antes, os índios ainda tentaram reverter a decisão da Subseção Judiciária de Altamira, mas o juiz federal Sérgio Wolney de Oliveira Guedes manteve a sentença inicial, autorizando a reintegração de posse.

O advogado dos índios, Adelar Cupsinski, decidiu então recorrer ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), pedindo que a reintegração de posse fosse suspensa até que uma audiência de conciliação fosse feita, com a presença de lideranças indígenas e de um representante do governo federal. Devido ao feriado, a reportagem não conseguiu confirmar com o plantonista do TRF se o recurso foi ou não julgado. A assessoria do consórcio diz ter recebido a informação de que sim, e que o pedido teria sido recusado. Cupsinski, que está no canteiro ocupado, não atendeu o telefone.

Em carta entregue aos índios ontem, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, reiterou a disposição do governo federal em dialogar. No texto, Carvalho se compromete a receber as lideranças indígenas no Palácio do Planalto, em Brasília, caso os índios deixem pacificamente o canteiro, na próxima terça, dia 4. Até a noite de quarta, contudo, os índios recusavam a proposta, exigindo que a reunião fosse no canteiro, que ficaria ocupado até que um representante do governo federal, preferencialmente Carvalho, fosse ao local ouvir as reivindicações indígenas.

Segundo a coordenadora da representação do governo federal em Altamira, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, Cleide Antonia de Souza, que entregou a carta de Carvalho aos índios, o governo propõe que a reunião aconteça na capital federal por avaliar ser muito mais fácil ouvir e negociar as reivindicações do grupo estando todos em Brasília, onde é possível consultar outros ministros e membros do governo. A delegação indígena viajaria com transporte e hospedagem custeados pelo governo.

Algumas lideranças indígenas, contudo, consideram que a proposta tem o único propósito de interromper a ocupação, e desmobilizar a manifestação.

– Sabemos o poder de força da polícia, mas desta vez não vamos sair. Vamos encarar – afirmou, ontem, Paygomuyatpu Munduruku, liderança da etnia.

Os índios pedem a suspensão de todos os empreendimentos hidrelétricos na Amazônia, até que o processo de consulta prévia aos povos tradicionais, previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), seja regulamentado. Segundo o governo, isso já está sendo feito pelo grupo de trabalho interministerial instituído em janeiro de 2012 para avaliar e apresentar proposta de regulamentação dos mecanismos de consulta prévia. O grupo é coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores e pela Secretaria-Geral da Presidência da República e conta com a participação de vários órgãos e entidades governamentais.

Desocupação não deve acontecer antes de segunda

A Superintendência da Polícia Federal (PF) no Pará informou nesta quinta, dia 30, que, mesmo que os índios que ocupam um dos canteiros da Usina Hidrelétrica de Belo Monte não deixem o local voluntariamente, dificilmente vai organizar uma operação policial de desocupação, antes da próxima segunda, dia 3.

– Antes de deslocarmos equipes até o local, temos que traçar planos e definir a melhor estratégia para tentar evitar um confronto, que é algo que ninguém quer – comentou o assessor da PF em Belém, Fernando Sérgio Castro, logo após consultar o superintendente da corporação no estado, delegado Valdson José Rabelo.

Segundo o assessor, dois fatores dificultam o planejamento da operação: o feriado e o fato de que cerca de 70 policiais federais estão sendo deslocados de várias delegacias paraenses para o Recife onde, a partir desta segunda, começam a se preparar para garantir a segurança durante a Copa das Confederações, evento esportivo que começa no próximo dia 15.

– Diante de uma situação dessa, logicamente, vamos ter que traçar planos. Esperamos que não seja necessário o uso da força, que os índios deixem o local como já fizeram em outras ocasiões e a situação se resolva pacificamente. Agora, é óbvio que, se for preciso, a PF vai usar os meios necessários para que a ordem judicial seja cumprida. Eu acredito que, a menos que a situação se agrave, isso não acontecerá antes de segunda-feira – acrescentou o assessor.