A onda de manifestações que começou no início do mês em São paulo e se estendeu pelo país foi provocada pela indignação com o aumento de R$ 0,20 nas tarifas do transporte público. A revolta trouxe para a discussão temas que há décadas estão na lista de insatisfação dos brasileiros: saúde, educação, segurança, corrupção, impunidade.
Para tentar controlar a situação, governantes baixaram os preços das passagens. A presidente Dilma Rousseff, que recebeu manifestantes e conversou com governadores e prefeitos, afirmou que o governo federal estava ouvindo a mensagem que chegava das ruas.
Mas as vozes das ruas foram tão fortes, que a mobilização chegou a ser comparada ao movimento Diretas Já.
– Nós temos pessoas em todo o país indo às ruas para lutar contra a corrupção, pedindo melhor qualidade de vida, buscando alterar a forma como o estado e o governo se relacionam com a sociedade – comentou o cientista político Ricardo Caldas.
O descontentamento da população pode ser medido em pesquisas. Em uma delas, o índice de popularidade da presidente caiu de 63% em março para 55% em junho. Para a oposição, a imagem desgastada é resultado de desperdício de dinheiro e promessas que não foram cumpridas.
Já a base aliada afirma: os protestos são legítimos e não abalam o governo. Nem a inflação que acumula índice de 6,7% em junho seria o combustível para as mobilizações.
– Na vida real, não tem inflação coisa nenhuma, esta sob controle. Há um ambiente criado pra essa queda de popularidade, mas está dentro da normalidade – afirma José Guimarães, líder do PT na Câmara dos Deputados.
Para o economista Roberto Piscitelli, a única saída para o governo controlar a inflação é desistir de reajustar valores de serviços, como aconteceu com os transportes.
– Muitos aumentos que estavam previstos deixarão de ocorrer. Em alguns casos não se trata de uma questão de adiamento do reajuste e sim de um cancelamento. No mês de junho e julho vai ser mais acentuado no sentido de reduzir as pressões sobre a inflação.
A tática do governo de dialogar e ceder aos apelos da sociedade pode acalmar a mobilização agora. Mas um ano antes das eleições presidenciais, o clamor por mais qualidade nos serviços e mais ética na política já provoca especulações sobre um possível retorno do ex-presidente Lula ao poder.
– Muito da corrupção que aconteceu no governo não é do governo Dilma. Estas obras megalomaníacas são do governo Lula. Se mostrarmos tudo que foi feito, seguramente a população vai avaliar essas questões – acredita o deputado federal Luiz Carlos Heinz (PP-RS).
José Guimarães, porém, descarta o retorno do ex-presidente.
– É claro que o nome do Lula sempre aparece pelo legado, mas a candidata dele é Dilma e vamos continuar com ela – afirma Guimarães.