Os trabalhadores reivindicam questões locais e nacionais para a categoria, como subsídio no preço do óleo diesel, isenção no pagamento do pedágio, sanção do projeto de lei do motorista que organiza a profissão, criação da secretaria do Transporte Rodoviário de Cargas, aposentadoria com 25 anos de serviço, postos de saúde ao longo das estradas, segurança e melhoria da infraestrutura viária.
– Queremos uma atenção maior do governo federal para o transporte de carga, porque somos fundamentais na economia do país – afirmou o líder da paralisação dos caminhoneiros, Nélio Botelho.
Na maioria dos pontos, a passagem para carros e ônibus é liberada, sendo impedido apenas o tráfego de caminhões. A paralisação interditou importantes vias nas regiões metropolitanas das capitais, congestionando o trânsito e dificultando a entrega de mercadorias.
Desde a tarde de segunda, o acesso ao Porto de Santos (SP) está prejudicado. A BR-277, que liga o oeste do Estado ao porto, está interditada nos dois sentidos. A rodovia é uma das principais ligações entre o interior do Estado e Curitiba.
Já em Cuiabá (MT), seis mil caminhoneiros aderiram ao protesto. Na BR-364, saída para Rondonópolis, a fila chegou a 60 quilômetros nos dois sentidos, com passagem liberada apenas para veículos leves e transporte de passageiros. Em Mato Grosso, os caminhoneiros têm pautas estaduais, como a aplicação dos recursos do Fundo Estadual do Transporte (Fethab) para a recuperação de rodovias.
Em Minas Gerais, cinco trechos de rodovias federais que cortam o Estado permanecem bloqueados parcialmente. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas, há registro de protestos em pontos da BR-381 e da BR-040. O Estado foi o mais atingido pelas manifestações de segunda.
Além dos protestos em estradas federais, ocorreram paralisações em outras vias. Em São Paulo, durou quase duas horas e meia o bloqueio na Marginal Pinheiros, no sentido Rodovia Castello Branco, provocado por um protesto que começou às 7h.
Também pela manhã, após mais de 26 horas de bloqueio, a Tropa de Choque conseguiu retirar manifestantes que interditavam a Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na Baixada Santista. O grupo protestava contra a Lei 12.619/12 – que regulamenta a profissão de motorista – e a cobrança de tarifas para caminhões por eixos, mesmo quando passam pela praça de pedágio com os eixos suspensos. Eles também reivindicam redução de 50% na tarifa do pedágio durante a madrugada e a diminuição no preço do diesel.
Agronegócio parado
As paralisações já atingem diversos setores do agronegócio, prejudicando o transporte de cargas, a produção, o comércio e a exportação produtos. O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alisio Vaz, informou que os protestos de caminhoneiros pelo país causam “alguma preocupação com o suprimento de biocombustíveis”, como etanol e biodiesel.
– Esses produtos vêm de longe e encontram paralisações regionais, seja em grandes centros ou mesmo em Paulínia – comentou, referindo-se à cidade que concentra indústrias do setor petroquímico no interior de São Paulo. Na segunda, caminhoneiros bloquearam um pedágio que dá acesso à Refinaria do Planalto (Replan), justamente em Paulínia. No caso de gasolina e diesel, o transporte é feito por bombeio, através de dutos, explicou Vaz.
Ele ponderou, no entanto, que, no geral, as manifestações não estão atrapalhando o transporte de combustíveis.
Já em termos de pecuária, a Aurora Alimentos mantém três unidades paralisadas em Santa Catarina. Além da trégua no abate de animais, aves e suínos estão sem alimentação, já que os estoques de ração são limitados na região.
Em entrevista ao programa Mercado & Companhia, do Canal Rural, o presidente da Cooperativa Central Aurora, Mario Lanznaster, afirmou estar preocupado com o prejuízo. Segundo ele, estão sendo feitas negociações com os caminhoneiros para a liberação de algumas cargas nas rodovias.
– É um problema sério, pois os frangos, por exemplo, entram em fase de canibalismo muito rápido. Eles estão passando fome – destacou Lanznaster.
Ele ainda afirmou que a empresa precisou dispensar mais de dois mil funcionários e que o prejuízo não afeta só agroindústria e os funcionários, mas também os integrados, que totalizam mais de 15 mil produtores de suínos, aves e leite.