Cresce confinamento para engorda de bois de terceiros no Brasil

Usuários são pecuaristas que não têm área suficiente ou interesse em montar estruturaNos últimos anos, o Brasil viu aumentar o número de confinamentos que se especializaram em engordar bois de terceiros, assim como acontece em outros países. E a missão de quem presta esse serviço é fazer o pecuarista e o confinador ganharem dinheiro com a atividade.

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No dia da visita da reportagem à Fazenda Planura, em Aruanã (GO), 26,8 mil animais estavam fechados nos currais de engorda. E nenhum deles era de propriedade da fazenda. A estrutura, uma das mais modernas do país, é usada para engordar bois de pecuaristas parceiros. O mesmo modelo de confinamento foi encontrado na Fazenda Conforto, em Nova Crixás, também em Goiás, e na Fazenda Mirante, em Nerópolis, região metropolitana de Goiânia.

Os usuários do  serviço são pecuaristas que não têm área o suficiente ou interesse em montar confinamento próprio. Mas também pessoas como Mário Bittar Filho, que usam a prestação do serviço para engordar bois que não couberam nos confinamentos que eles possuem em suas propriedades.

– Na nossa fazenda, ainda estamos aprendendo, e aqui eles já são profissionais no confinamento – afirma Mário Bittar.

Na maioria dos prestadores de serviço, o lote mínimo é de 120 cabeças. O pagamento geralmente é feito de duas formas: a parceria ou o pagamento de diária no sistema de boitel. Na parceria, o pecuarista que fornece os animais receberá depois do abate apenas o valor referente ao peso do boi magro, mas a preço de boi gordo. Já no sistema de boitel é paga uma diária por cabeça e o dono do animal recebe o valor referente a todas as arrobas abatidas. A diária de um boitel fica em torno de R$ 6,40.

– Em determinado momento, vai ser mais interessante fazer parceria. Em outro, fazer boitel. Quando a dieta está muito cara, por exemplo, quase não vemos o pagamento de diária – afirma o gerente executivo da Associação Nacional de Confinadores (Assocon), Bruno Andrade.

Na maioria dos casos, o confinamento fica responsável também por negociar a venda dos animais para os frigoríficos e quase sempre fecha parceria com as indústrias, se comprometendo a fornecer o boi gordo. Em alguns casos, como o da Fazenda Planura, são os próprios frigoríficos que administram a estrutura. O grupo tem outras seis unidades espalhadas pelo país. A gestão por parte das indústrias e o sistema de parceria fazem os confinamentos no Brasil parecerem um pouco com o modelo norte-americano.

– Nos Estados Unidos, muitos confinamentos são de fábricas de ração. Eles pegam o boi de terceiros e oferecem a ração – afirma o diretor da associação dos engenheiros agrônomos de Goiás.

Mas, em volume de animais confinados, há bastante diferenças entre os países.

– Na Austrália, 50% dos animais abatidos saem dos confinamentos. Nos Estados Unidos, esse número chega a 85%. Enquanto que aqui, no Brasil, apenas 9% das rezes que chegam aos frigoríficos foram engordadas exclusivamente no cocho.
Essa diferença está diretamente ligada ao perfil de produção a pasto do Brasil, apesar da redução na oferta de novas áreas. E, por isso, os especialistas daqui apostam no casamento entre o confinamento e as pastagens.

– Eu acredito que o melhor para a sociedade brasileira é o crescimento de projetos menores, mais disseminados e voltados para a produção a pasto e terminação no confinamento – presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Manoel Caixeta Haun.

Juliano Fernandes, coordenador do confinamento experimental da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ/UFG), acrescenta:

– Se você olhar as duas atividades isoladamente, você nunca vai querer mexer com confinamento. Mas, se você atrelar as duas, você aumenta tanto sua rentabilidade que nunca mais vai querer sair do confinamento.

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