O estudo produzido pelo Observatório ABC mostra que o alcance do programa, em geral, ainda é baixo. Um exemplo é a recuperação de pastagens degradadas, principal linha de crédito do programa, que concentrou 80,32% dos empréstimos feitos no ano-safra 2012/2013. Considerando o total de pastagens degradadas no país, em média, foram alocados R$ 2,72 por hectare de pastagem degradada na safra 2011/2012 e R$ 5,25 por hectare de pastagem degradada na safra 2012/2013 no Brasil. No entanto, o valor mínimo necessário, em média, seria de R$ 300,00 por hectare, segundo cálculos da Embrapa.
De acordo com o coordenador do estudo, Mario Monzoni, tanto em 2011/2012 quanto em 2012/2013, apenas seis municípios do país com pastagens degradadas captaram recursos do programa em volume compatível com o necessário para promover uma total recuperação. São eles: Fortaleza de Minas (MG), Onça de Pitangui (MG), Rio Sono (TO), Brasilândia do Tocantins (TO), São Joaquim (SC), Pirassununga-SP (safra 2011/2012) e Baião-PA, Ribeiro Gonçalves-PI, Urupema-SC, Uruçuí-PI e, novamente Pirassununga e São Joaquim (safra 2012/2013).
O quadro de distribuição dos recursos do Programa ABC para os anos-safra 2011/2012 e 2012/2013 mostra que grande parte deles não foi alocada em áreas prioritárias para a recuperação de pastos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Ao contrário, a distribuição ainda é muito concentrada em poucas regiões, principalmente no Centro-Sul do país. Grande parte dos municípios com pastagens degradadas, principais alvos do programa, não captou nenhum recurso do ABC.
Por isso, o coordenador do Centro de Agronegócio (GVAgro), ex-ministro Roberto Rodrigues, diz que é necessário avaliar qual tem sido a efetividade deste programa. Este foi um dos focos do estudo “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono: Financiando a Transição”, terceiro produzido este ano pelo Observatório ABC, iniciativa do GVAgro da FGV de São Paulo. O estudo foi coordenado pelo professor Mario Monzoni, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-EAESP (GVces).
Roberto Rodrigues, no entanto, ressalta que o programa ABC foi plenamente incorporado ao crédito agropecuário brasileiro.
– Os recursos disponibilizados à agricultura de baixa emissão de carbono crescem a cada ano, evidenciando esforços das instituições responsáveis pela distribuição dos recursos e de entidades preocupadas com o treinamento e engajamento de técnicos e agricultores com o plano – destaca.
O estudo constata também que o BNDES ainda não conseguiu aumentar o financiamento provido pelo Programa ABC, apesar da sua potencial capilaridade. Isso ocorre, parcialmente, devido aos entraves operacionais, como por exemplo, as exigências decorrentes da legislação ambiental federal. Isso pode explicar a diferença no resultado dos dois bancos: entre julho de 2012 e fevereiro de 2013, 878 municípios captaram recursos do Programa ABC via BB e apenas cinco captaram via BNDES.
Por outro lado, o Banco do Brasil tem se esforçado para fazer deslanchar o programa usando recursos próprios, provenientes da Poupança Rural. Isso tem permitido executar financiamentos além da sua programação – R$ 905,5 milhões a mais somente na safra 2012/13. O avanço do BB no desembolso do ABC deveu-se, principalmente, a iniciativas como a capacitação dos agentes financeiros (em parceria com a CNA), com o apoio de cartilha que os orienta, e posterior treinamento dos principais atores envolvidos no processo de tomada do crédito (agentes financeiros, cooperativas etc.), em cada Estado, por técnicos do BB.
Distribuição dos recursos
Dois Estados são exemplos distintos da distribuição de recursos do programa: Minas Gerais e Pará. Minas, que tem o seu Plano ABC consolidado e publicado, é o principal tomador do crédito para recuperação de pastagens e florestas plantadas e o segundo para tratamento de dejetos, e está sempre em posição de destaque nas demais técnicas do programa. Enquanto o Pará, campeão de emissões de CO2 por desmatamento e dono de uma das maiores áreas com pastagens degradadas no país, teve, na safra 2011/2012, um baixo desembolso do Programa ABC para as práticas agropecuárias, chegando a apenas R$ 30,7 milhões (2,53% do total) e, na safra 2012/13, a pouco mais de R$ 52 milhões (1,9% do total) até maio de 2013.
O sistema de plantio direto, outra ação importante do ABC, ainda não decolou na principal fronteira agrícola do país, o chamado Mapitoba (que abrange partes dos Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia). Segundo informação do BB, a safra 2011/2012 teve 220 contratos do programa para essa linha, sendo apenas um no Tocantins; três no Piauí; e oito no Maranhão.
A Bahia, com 14 contratos, ficou ainda muito abaixo do primeiro colocado, o Estado de São Paulo, com 59 contratos. O desempenho fraco repetiu-se em 2012/2013, com o Mapitoba respondendo por apenas 23% do total desembolsado no país para plantio direto – com a Bahia respondendo, sozinha, por 16% do total nacional.
Plano ABC
O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura – Plano ABC – tem por finalidade a organização e o planejamento das ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas com o objetivo de responder aos compromissos de redução de emissão de GEE no setor agropecuário assumidos pelo país.
Ele é composto por sete programas, seis deles referentes às tecnologias de mitigação: recuperação de pastagens degradadas; integração Lavoura-Pecuária-Floresta e Sistemas Agroflorestais (SAFs); Sistema Plantio Direto (SPD); Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN); florestas plantadas; tratamento de dejetos animais; e adaptação às mudanças climáticas.
De acordo com o Ministério da Agricultura, o Plano ABC tem período de vigência de 2010 a 2020, sendo previstas revisões e atualizações em períodos regulares não superiores há dois anos, para readequá-lo às demandas da sociedade, às novas tecnologias e incorporar novas ações e metas, caso se faça necessário.
Para o alcance dos objetivos traçados pelo Plano ABC, no período compreendido entre 2011 e 2020, estima-se que serão necessários recursos da ordem de R$ 197 bilhões, financiados com fontes orçamentárias ou por meio de linhas de crédito.