Produtor argentino espera colher mais de 10 milhões de toneladas de trigo apesar de risco com fungo

Garantia de qualidade, no entanto, só deve vir dentro de cerca de 10 dias, quando o risco de contaminação por fusarium estará afastadoO setor produtivo do trigo na Argentina espera colher nesta safra 10,3 milhões de toneladas, grande parte de boa qualidade já que 75% da área semeada se desenvolve bem. A garantia de qualidade, no entanto, só deve vir dentro de cerca de 10 dias, quando o risco de contaminação por fusarium estará afastado.

O fungo ataca a planta em condições de umidade excessiva e forte calor e a Argentina registrou no último mês períodos de estiagem, temperatura alta, seguidos de chuva e temperaturas baixas.

– O perigo de ter fusarium é durante o estágio da floração e somos precavidos por experiência anterior – explicou o presidente Associação de Produtores de Trigo (Argentrigo), Matias Ferreccio.
 
Ele afirmou que a prolongada estiagem não prejudicou o trigo na principal área de produção, no sul da Província de Buenos Aires, responsável por quase metade do trigo nacional. Há estimativas, porém, de muitas chuvas nos próximos dias, o que alerta os produtores para o risco do excesso de umidade, como ocorreu na safra 2012/2013, inicialmente afetada pela estiagem. E, posteriormente, severamente castigada pelas chuvas.

No entanto, “se o clima continuar ameno, como vem se apresentando até o momento e com chuvas moderadas, o rendimento será muito bom”, estimou. Também precavido, o analista da consultoria Globaltecnos, Alejandro Vejrup, ressaltou a coincidência do período chuvoso com a etapa crítica da floração.

– Se chover três dias, como dizem as previsões climáticas, mais de 100 mm, podemos ter o mesmo problema que no ano passado com o fusarium – disse o analista.
 
Baseado nos cálculos de rendimentos elaborados pelos técnicos das bolsas de cereais, Vejrup estimou que se o cultivo for contaminado, como a colheita anterior, a safra poderia repetir os mesmos 8 milhões/t. Em compensação, se as chuvas forem “normais”, entre 10 mm e 50 mm, a colheita ficaria entre 9,5 milhões a 10 milhões/t, disse ele, com uma estimativa mais conservadora.

– Estes dias são chave para o trigo – arrematou.

O pico da colheita começa em 10 de dezembro. No norte, os trabalhos já foram iniciados, mas há atraso. Em seu relatório semanal, divulgado na quinta, dia 31, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires manteve a estimativa da safra e detalhou que a colheita no norte está prejudicada pelas chuvas. Também observou que os rendimentos dos primeiros lotes coletados são baixos por se tratar de uma zona trigueira marginal, que sofreu com a escassez de chuvas.
 
Os produtores colheram 1,5% dos 3,62 milhões de hectares cultivados com trigo. O atraso é de 4,5 pontos porcentuais em relação a igual período do ano anterior. O Ministério de Agricultura ainda não publicou estimativas oficiais para a colheita do cereal. Em recente entrevista, o vice-ministro de Agricultura, Lorenzo Basso, havia estimado rendimentos muito superiores à safra anterior.

– No fim das contas, somando a área produtora de excelência e a não tradicional, teremos um bom resultado – disse Basso. A última colheita foi uma das piores dos últimos anos e os argentinos até hoje estão pagando mais caro pelos derivados, como pão e massas.

Exportação

Com oferta abaixo da demanda no mercado doméstico, o preço do cereal disparou nos últimos meses. Segundo a Bolsa de Cereais de Rosario, não houve oferta aberta de trigo disponível na quinta, mas o preço estimado do cereal é de 2.500 pesos (em torno de US$ 422/t). Para o trigo novo, com entrega em dezembro, os moageiros estavam dispostos a pagar US$ 265/t, enquanto a exportação paga US$ 245/t. No entanto, o setor não tem qualquer previsão sobre a data da liberação das primeiras licenças de exportação, as chamadas ROE.

– Não temos nenhum sinal de quando isso vai ocorrer. Mas sabemos que a liberação será muito lenta porque o governo vai querer assegurar para o mercado interno todo o trigo disponível, para não acontecer o que está ocorrendo agora – explicou Ferreccio.

O setor negocia com os deputados eleitos no último domingo para propor ao Congresso Nacional, a partir de dezembro, quando eles assumem, medidas para aliviar os produtores asfixiados pelos controles das exportações; carga tributária elevada e altos custos de produção.

– A maneira de mudar é por meio de medidas promovidas pelos novos parlamentares. A primeira delas é liberar as exportações e criar um esquema de retenções proporcionais à produção –  disse Ferreccio.

A ideia é fixar um teto para a produção, que pagaria retenções, os impostos sobre as exportações. Se o produtor ultrapassar o volume previsto, ele poderia ser isento do imposto.

– Este setor se recupera rapidamente. Temos tempo até março, abril, quando tomamos decisão sobre a intenção de plantio. Podemos voltar a produzir 18 milhões/t de trigo de um ano para o outro – disse Ferreccio.

Agência Estado