Mesmo castigado pela seca, Uruguai garante sucesso no cultivo da soja

Estiagem gerou perdas, mas país só cresce em área plantada e produtividadeO Rural Notícias apresenta a partir desta segunda uma série de reportagens em lavouras internacionais. Nossa primeira parada é no Uruguai, em uma região que viveu, em pouco tempo, duas situações climáticas adversas: a seca e o excesso de chuvas. Ainda assim, o cultivo de soja cresce no país, e o desafio é aumentar a produtividade.

Partimos de Montevidéu, com destino ao oeste do Uruguai, país com pouco mais de 3 milhões de habitantes que, em poucos anos, viu a agricultura crescer em regiões específicas do país. A que nos espera é tradicional no plantio de soja.

Uma área de excelência em agricultura. Assim é chamada a região de Mercedes, a 280 quilômetros de Montevidéu. Lá está concentrada grande parte das lavouras de soja, basicamente por dois motivos: o solo fértil e o clima, que já foi mais favorável. Faltou chuva durante todo mês de dezembro e a seca facilitou a entrada de pragas. Entre elas, a helicoverpa, a falsa-medideira e o percevejo. Na fazenda de Alejandro Gonzáles, os custos com as aplicações foram de US$ 800 por hectare. Depois da estiagem, foi a vez da chuva: 500 milímetros em apenas 20 dias. As perdas foram de quase 30%.

– Mais ou menos 50 dias por aí, não choveu e a sojas de segunda, que são as que mais têm no país, foram as que sofreram mais, porque sofreram um stress muito grande, porque nasceram com a umidade que tinha no inverno e faltou água para elas. Bem, e muitos campos ficaram por isso mesmo – conta.

Mesmo com problemas pontuais o plantio de soja cresce no Uruguai. No ano passado, a área plantada foi recorde, com 1,2 milhões de hectares. Nesta safra, o número se manteve. O volume a ser colhido chega a quase 3 milhões de toneladas, média de 2.500 quilos por hectare. A empresa de Juan Manuel Erro é responsável por pelo menos 40% das sementes de soja utilizadas no Uruguai. Dos 13 mil hectares que cultiva, 6 mil são utilizados para produção de sementes. A tecnologia veio da Argentina.

– A situação em nível de país vem muito bem, no que diz respeito à soja de primeira. A soja de segunda tem duas situações: as mais novas e as de segunda data estão se recuperando muito bem também, mas vieram de um ano de recorde de chuva em janeiro e fevereiro, que houve alguns problemas climáticos. Mas acho que mesmo assim a situação vem muito bem – afirma o empresário.

O desafio, segundo quem produz na região, não é o aumento da área plantada e, sim, da produtividade. É no que aposta a Mesa Tecnológica de Oleaginosas do Uruguai, criada em 2004. Atualmente, vem pesquisando oito cultivares ao mesmo tempo.

– A agricultura em si no Uruguai é muito nova, e quando se incorporou a agricultura forte aqui, se trouxe toda a tecnologia, da Argentina principalmente. Com eles vieram muitos cultivos e outras coisas, que neste momento era o que mais se plantava na Argentina, mas que não se adaptava ao Uruguai. Com o passar dos anos, foi acontecendo uma evolução quanto ao tipo de material que deve plantar no Uruguai ou que melhor se adapta. E hoje em dia tem as tecnologias de cultivo que já foram testadas e que se tem rendimento aqui no Uruguai – explica o engenheiro agrônomo Martín Alvarez.
 
– Para gerar sistemas de produtividade sustentáveis, pensando a longo prazo, precisaria de cultivares muito produtivas, com muita produtividade. Portanto, esta é uma aposta, gerar mais produtividade, talvez não pensando em expandir, majoritariamente a área, mas conseguir mais renda por hectare – complementa a
presidente da empresa, Roberto Verdera.

Um país com produção pequena, comparado a vizinhos da América do Sul, mas que aposta em tecnologia e é preocupado com a sustentabilidade. Neste ano, passou a valer no país a Lei de Uso de Conservação do Solo, que coloca regras no manejo utilizando a rotação de culturas.

– Eles têm uma forma de biotecnologia diferente. Eles estão muito avançados nesta questão. O Uruguai é um país muito sério com suas políticas públicas, suas questões de contrato. Para nós, serve de referência nestas questões – avalia o presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira.

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