Após tumulto, Ceagesp suspende cobrança de estacionamento

No final de semana, o local ficou fechado. Os prejuízos ainda serão calculadosA cobrança por estacionamento na Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na capital paulista, foi suspensa por tempo indeterminado. O mercado de varejo que ocorre aos fins de semana foi cancelado devido à manifestação de sexta, dia 14, contra a cobrança. O entreposto é o maior da América Latina e tem uma circulação média de 12 mil veículos e 50 mil pessoas por dia.

Depois de convocar uma nova manifestação para a manhã desta segunda, dia 17, o Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sincaesp) cancelou o protesto. De acordo com uma a liderança da categoria, a violência da última sexta foi o motivo para o cancelamento.

Nesta segunda, os veículos comuns e caminhões tiveram a entrada liberada. Quem chegou à Ceagesp, ainda pode ver as marcas da violência: vidros quebrados e cabines de cobrança destruídas. Uma das partes mais atingidas foi o departamento de entrepostos, que ficou isolado.

– Nós ficamos assustados com esse tipo de situação. Como representante de uma categoria patronal, não iríamos fazer uma manifestação para nos prejudicar. E isso nos prejudicou muito. A sexta-feira significou 30% da nossa movimentação – diz o presidente do Sincaesp, José Luiz Batista.

Na última sexta, manifestantes e policias entraram em confronto devido à cobrança do estacionamento do local. Manifestantes atearam foto em máquinas de cobrança, dois prédios (um que corre risco de desabar), um carro e um caminhão. O protesto foi controlado quando dois pelotões da Tropa de Choque entraram no local. No tumulto, um homem de 23 anos foi baleado e mais três pessoas ficaram feridas. No final de semana, o local ficou fechado. Os prejuízos ainda serão calculados.

Para José Luiz Batista, a Ceagesp não negociou essa cobrança, o que revoltou quem trabalha no entreposto.

– O que revoltou é que o projeto foi implantado. O projeto de circulação aumentou em três vezes o trânsito, ele trouxe problemas. Tem que se discutir acomodação e espaço para carros. Isso [o projeto] tem que passar por um estudo de viabilidade. 

– A Ceagesp foi vítima de um atentado de grande violência que nós lamentamos muito, em especial pelos feridos – afirma o presidente do Ceagesp, Mário Maurici de Lima Morais.

Para ele, a ação de sexta foi orquestrada. Ele não soube dizer, no entanto, se são verdadeiras as denúncias de que, na ação, funcionários da empresa de segurança que presta serviço à Ceagesp usaram munição letal contra os manifestantes.

Na opinião dele, o protesto foi uma reação ao sistema, que além de cobrança, estabelecerá controle de entrada e monitoramento, inclusive com câmeras de segurança, de todo o entreposto.

– O que está em jogo é se isso é um espaço público no sentido de que pertence à sociedade ou no sentido de que é de qualquer um – disse em entrevista coletiva.

Ele destacou ainda que fatos semelhantes ocorreram há dois anos, quando foi anunciado o edital para implementação do sistema de controle e cobrança. De acordo com Morais, não se trata de uma revolta generalizada, mas uma ação de um grupo de cerca de 150 pessoas.

A partir do próximo dia 20, será proibida a entrada de veículos não relacionados com as atividades da Ceagesp. Os fornecedores, distribuidores e compradores deverão se cadastrar para ter acesso ao entreposto. A medida é necessária, de acordo com Morais, para coibir a prática de crimes dentro das instalações.

– Este não é o ambiente mais adequado para exercer a missão que ele tem – disse ao citar as 380 ocorrências anuais de crimes dentro do entreposto, como casos de homicídio, furto e exploração sexual de crianças e adolescentes.

– Aqui tem de tudo, absolutamente de tudo – enfatizou.

Segundo o presidente, a cobrança foi a forma encontrada para remunerar a empresa responsável por instalar 360 câmeras em todo o mercado. Além disso, a ideia era reduzir o número de veículos que usam o terminal como estacionamento, prejudicando as atividades da companhia. De acordo com Morais, o valor pago pelos caminhões apenas pela carga e descarga não impactaria nos ganhos das empresas. Segundo ele, para ficar quatro horas dentro do entreposto, o valor cobrado é R$ 4,00.

A concessionária que venceu a concorrência assinou contrato por sete anos e fez um investimento de cerca de R$ 22 milhões. Do valor arrecadado com a cobrança do estacionamento, 4% são revertidos à Ceagesp. Segundo Cesár Vaiano, diretor executivo da C3V, empresa responsável pelo sistema, ainda não há uma avaliação dos prejuízos nem se sabe se eles poderão ser cobertos pela apólice de seguro.

Vaiano ressaltou, no entanto, que o foco imediato da empresa é a segurança dos 230 funcionários que trabalham no terminal e no restabelecimento pleno das operações na Ceagesp.

Acesso ao entreposto

Segundo o presidente da Ceagesp, Mário Maurici de Lima, a entidade estuda uma nova forma de financiar a estrutura de controle de acesso ao entreposto.

– O que a gente queria com essa cobrança era montar uma estrutura que permitisse um controle de acesso ao mercado, para evitar pessoas estranhas; que garantisse a não permanência aqui dentro de carros estacionados. Cobrança não vamos fazer. Vamos nos debruçar sobre o contrato e ver se existe uma outra maneira de financiar essa operação de controle – disse Lima.

 

Clique aqui para ver o vídeo