Agricultura virou alternativa para cidades atingidas por febre aftosa

Antes pouco conhecidas, as cidades de Japorã, Eldorado e Mundo Novo (MS) lutam para se recuperar após surto da doença em 2005Encontrar, na pior situação possível, uma saída para sobreviver na atividade. Foi o que fizeram os produtores rurais dos municípios de Eldorado, Japorã e Mundo Novo, em Mato Grosso do Sul. Em outubro de 2005 eles estavam no centro das atenções. Um foco de febre aftosa voltou os olhos do mundo para o Estado. Interdições, sacrifício de animais, embargos com a carne, burocracia. Uma combinação de fatores que praticamente inviabilizou o trabalho de quem dependia da pecuária.

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– A gente tem isto muito vivo na memória, toda esta crueldade que fizeram com o gado, esta matança – afirma o produtor rural João Marcos Wolf.

Ao todo foram quase quarenta animais sacrificados. Cerca de mil e trezentas propriedades interditadas. Mais de cinquenta países fecharam as portas para a carne bovina de Mato Grosso do Sul. O prejuízo soma mais de R$1 bi.

 – Não foi fácil, acabou com assentamento, acabou com nosso município, foi lamentável – conta o produtor rural Edinor Sebastião Vogel.

– Quase dez anos se passaram e a situação mudou. A paisagem por aqui é outra. O que antes era área de pastagem, hoje é da agricultura. O antigo criador de gado hoje é produtor de soja e milho – lamenta o produtor João Henrique Bosco.

É possível dividir a região em antes e depois do foco da febre aftosa. Foi ela quem provocou uma mudança cultural. Uma modificação ainda recente que cresce muito.  Cerca de 25% da área total do município é utilizada para lavoura.

– A aftosa deixou as suas marcas e mudou também o perfil social e econômico do município. A pequena pecuária, não muito profissional, se transformou numa agricultura forte, uma agricultura boa. Da pecuária, em virtude da aftosa, nos tornamos um município eminentemente agrícola – explica o prefeito de Japorã, Vanderlei Bispo.

O produtor rural Edinor Vogel na época tinha cento e cinquenta cabeças de gado para corte e leite. Todo rebanho foi sacrificado. Dois anos depois, aproveitando o abatimento de 95% da dívida concedido pelo governo aos agricultores, investiu no plantio da mandioca. Hoje planta 100 hectares e tem capital para mais.

– Hoje tenho 100 hectares plantados.Vai aumentar mais sessenta hectares este ano. Esta área está sendo preparada para mandioca – mostra.

Capitalizado e confiante em um controle mais rígido das autoridades sanitárias, a cidade voltou a mexer com gado. O rebanho dobrou se comparado a 2005. No lado paraguaio da fronteira procuramos o serviço nacional de qualidade e saúde animal.  A chefe do Senacsa, Andrea Zacarías, afirma que a vigilância é realizada em conjunto com o Brasil, em uma proporção de 15 quilômetros para cada lado, a partir da linha internacional.

– Se monitoram animais que ficam nesta zona e também se realizam supervisões dos trabalhos que feitos tanto do lado brasileiro como paraguaio – afirma.

Mas nem a garantia de um controle maior convence alguns produtores. João Marcos Wolf, por exemplo, não pretende voltar a criar gado.

Aquilo foi um pesadelo que ainda está vivo na memória da gente – relata.

Ele também pertence ao novo perfil da região. Planta trinta e oito hectares de soja. Mesmo com a estiagem conseguiu cinquenta sacas por hectare. O volume é comercizado com cooperativas de Mato Grosso do Sul e Paraná.

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