Segundo o inspetor agropecuário da Agência de Defesa Agropecuária do Estado de Tocantins (Adapec) Daniel Rodrigues Marques não existem dados oficiais sobre o número de acidentes no município.
– Não é uma notificação obrigatória, por isso é difícil saber exatamente quantos acidentes acontecem – explica Daniel Marques.
Mas, através de relatos de profissionais e pessoas ligadas ao meio rural é possível ter uma dimensão do problema. Kleiton Oliveira da Silva Freire, atendente em uma loja agropecuária de Gurupi, acredita que são no mínimo, 10 casos por mês.
– Esse número pode ser bem maior porque muitos pecuaristas não procuram ajuda. Eu acho que apenas uns 20% buscam socorro – comenta Kleiton Freire.
O médico veterinário Fábio Augusto Folador, que presta serviço em haras da região, estima que o número de ocorrências seja ainda maior.
– Eu já atendi três animais em um mesmo dia, na mesma propriedade. Eu acredito que, por mês, são de 10 a 15 acidentes – disse ele.
Os acidentes mais graves acontecem nas cercas de arame liso, que é menos apropriado para a criação de cavalos, conforme explica o diretor do departamento de Arbitro da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Mangalarga Marchador (ABCCMM), Tiago de Rezende Garcia.
– O cavalo respeita mais o arame farpado, além disso, o fio do farpado é menos rígido e o animal consegue arrebentá-lo. Já no arame liso, que é mais resistente, ele fica preso por um dos membros e, na tentativa de se desvencilhar, vai se ferindo cada vez mais – explica.
Garcia recomenda que os criadores montem estruturas adequadas para a criação de equinos.
– Potros, égua com filho ao pé e garanhões, se possível, devem ser mantidos em cercados de madeira. Entre os arames, é preferível o farpado. Se for o liso, que seja bem esticado. E ainda pode-se usar a cerca eletrificada convencional – orienta.
Para o médico veterinário, Roger Clark, árbitro da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM) com capacitação em bem-estar animal, a maior parte dos acidentes acontecem pelo grau de desinformação dos criadores e ainda por questões culturais e econômicas.
– Toda pessoa, antes de adquirir um animal, seja ele qual for, precisa ter conhecimento sobre as necessidades daquela criação. E deve buscar ajuda de profissionais para receber orientações sobre a melhor maneira de oferecer um ambiente seguro para todos, animal e ser humano – ressalta Clark.
Os acidentes
O acidente mais recente aconteceu na fazenda de Carlos Augusto Suzana. O potro de dois anos e meio teve um corte profundo na canela (região metatarsiana) do posterior esquerdo que deixou o osso visível e também teve o casco arrancado. Além dele, outros dois animais machos da mesma propriedade se recuperavam de lesões causadas por arame.
O cavalo é um animal que se acidenta facilmente, por vários motivos. É um animal muito curioso, espirituoso e assustado, principalmente quando jovem. Os garanhões também são vítimas frequentes, porque tentam escapar do piquete em busca das fêmeas.
Algumas situações são tão graves que o sacrifício do animal é a alternativa. Foi o que aconteceu com o potro da fazenda de Carlos Augusto. Apesar de todo o esforço do funcionário Gilmar Alves Oliveira para salvar o animal, nesta terça, dia 22, o proprietário decidiu sacrificar o cavalo.
Com 654 criadores, o rebanho de equinos de Gurupi é 2.760 animais, de acordo com dados da Adapec. A raça mais comum na região é a quarto de milha, mas também há animais da raça paint horse, crioulo, mangalarga e os frutos de cruzamentos. Além da lida no campo, os cavalos são muito usados nas competições de vaquejada e nas provas de laço e três tambores.