Confiança do agronegócio cai no primeiro trimestre do ano

Alta dos custos de produção e falta de esperança na economia brasileira estão entre os principais fatores para a queda de confiançaOs dados da economia brasileira não têm entusiasmado o setor produtivo brasileiro. As preocupações com o aumento dos custos de produção para o plantio da próxima safra e os indicadores que apontam inflação alta, taxas de juros em sucessiva elevação e a perspectiva de crescimento baixo da economia são fatores que contribuem para a tirar a confiança do produtor agropecuário.

O Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), mostrou que os produtores rurais se mostraram satisfeitos com os preços, mas isso não foi suficiente para manter o Índice de Confiança em alta.

– O clima, a redução da produtividade média e elevação de custos, somados ao pessimismo em relação aos indicadores macroeconômicos, fizeram com que a confiança caísse – ressalta o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.

A inflação já se traduz em custos mais altos no agronegócio. Um levantamento feito pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que, no ano passado, os gastos com insumos equivaliam a 25,5 sacas da oleaginosa. Para este ano, as estimativas indicam que serão necessárias 10 sacas a mais para comprar os insumos.

A perspectiva dos agentes econômicos apontada pela pesquisa Focus, do Banco Central, apresentou a mais alta projeção de inflação para o fim de 2014, com IPCA em 6,47% ante 6,43% na semana anterior. A expectativa dos agentes do mercado é que até o fim do ano a inflação continue com pressão de alta.

– Eu não acho que a inflação terá um refresco tão cedo, porque as condições de oferta e demanda não vão arrefecer. Tem que continuar projetando uma demanda crescente de alimentos no mundo, porque os países emergentes ainda vão continuar crescendo e tirando pessoas da linha da pobreza e isso implica na continuidade da demanda. Uma pressão elevada daqui para a frente vai fazer parte do nosso dia a dia – afirma o economista Pedro Paulo Silveira.

– O governo estimulou o consumo e gastos e gerou dinâmica negativa para a inflação – índices de preço mostram inflação alta. A situação é estrutural e as pressões são resistentes e não cedem. O ambiente econômico está desequilibrado – aponta o economista-sênior do Banco Espírito Santos Investimentos, Flávio Serrano.

Taxa de juros

Nesta quarta, dia 28, o Comitê de Política Monetária do Banco Central deve decidir a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic. A expectativa é de que seja mantido o percentual de 11% ao ano.

O estudo

O IC Agro apresentou queda de dois pontos no primeiro trimestre de 2014, em comparação ao último trimestre de 2013. Na escala de 0 a 200, o IC Agro geral (que inclui os segmentos “antes” e “depois da porteira” mais o “produtor agropecuário”) variou de 104,5 para 102,7 pontos.

Para o diretor do Departamento do Agronegócio da Fiesp, Benedito da Silva Ferreira, a queda significativa na confiança do primeiro elo foi provocada, especialmente, pelo setor de máquinas agrícolas, que registrou queda de 21,3% nas vendas entre janeiro e março, se comparados com o mesmo período do ano anterior.

– Embora pessimista em relação à situação atual, a indústria ‘antes da porteira’ mostra-se otimista em relação às expectativas futuras. Seja em relação ao setor em que atuam, ou à economia brasileira, eles acreditam que o cenário mudará para melhor. Esse otimismo foi influenciado, especialmente, pelas revendas, indústrias de defensivos agrícolas e os bancos que financiam o setor – explica Ferreira.

Preocupações x investimentos

A questão climática continua sendo o principal problema para o setor agropecuário. Em um questionário onde puderam escolher mais de uma alternativa, 82,2% dos produtores agropecuários elegeram “clima” como sua maior preocupação.

– Isto ocorre por uma questão sazonal, seja por influência do excesso de chuvas que ocorreram na região Centro-Oeste ou pela seca observada nas regiões Sul/Sudeste -explica Ferreira. 

As alternativas “alta incidência de pragas e doenças” e “falta de trabalhador qualificado” aparecerem como a segunda e terceira maior preocupação para 30,4% e 22,5%, respectivamente. Também são elas que impulsionaram o aumento de 10,3 pontos percentuais na expectativa de investimentos em tecnologia ligada ao custeio. Os agricultores que responderam que farão investimentos adicionais nesta área representam 63% na sondagem atual, contra 52,7% na anterior.

Outros detalhes e o download do estudo completo estão disponíveis no site do IC Agro.

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