Inca alerta sobre riscos à saude dos produtores de fumo

Pesquisa foi feita no município gaúcho de Paraíso com 2.248 pessoasUm estudo epidemiológico realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), no município de Paraíso do Sul, no Rio Grande do Sul, alerta sobre os riscos de doença para os produtores de fumo em todo o país. Este será um dos temas do Seminário de Diversificação na Agricultura Familiar,que acontecerá de 4 a 6 de maio, no Canal da Música, em Curitiba (PR).

A médica toxicologista do instituto, Silvana Rubano Barreto Turfe, faz também outro alerta.

? Não vamos nos iludir. A lavoura do fumo é a cultura da morte para o agricultor, para o consumidor. Não para o dono da indústria. Nem o próprio governo, que ganha dinheiro com os impostos cobrados junto ao setor, se beneficia disso, pois gasta o dobro com a saúde das pessoas atingidas ? afirma a médica, que é coordenadora de uma pesquisa feita pelo Inca com pequenos produtores de Paraíso do Sul, município localizado a 223 quilômetros de Porto Alegre, na região central do Rio Grande do Sul. Nessa localidade, destacam-se as culturas do fumo e arroz, seguidos por milho, soja, feijão e hortigranjeiros.

Desenvolvida entre outubro e dezembro de 2007, a amostragem realizada por agentes comunitários entrevistou 2.248 pessoas em 1.581 domicílios. Cerca de 80% das pessoas ouvidas tinham trabalho direto com a fumicultura e depois com a lavoura de arroz. Do total de propriedades pesquisadas, 82% são áreas em sua maior parte com o cultivo do fumo e 61% dos entrevistados são também donos das suas áreas.

A pesquisa feita pelo Inca apontou que cerca de 40% dos agrotóxicos utilizados na lavoura do fumo são preparados pelos próprios agricultores. Outro detalhe recorrente desse manuseio é o alto índice de problemas de saúde e outros sintomas causados pelo trabalho direto com a fumicultura.

Segundo o relato dos entrevistados, 25% apresentaram algum tipo de intoxicação, sendo que 5,2% dos agricultores já tiveram que ser internados para tratamentos médicos. Sintomas frequentes entre os produtores de fumo pesquisados são dores de cabeça, fraqueza, palpitações do coração, dificuldades para respirar, enjôos, tonteiras, náuseas e falta de apetite.

Ainda entre a amostragem feita, verificou-se que 18% dos entrevistados tiveram algum tipo de depressão, independentemente da faixa etária. Também a incidência do câncer de pele, cerca de 3% dos relatos, foi notada pela amostragem do Inca. A maioria dos trabalhadores nas lavouras só utilizam boné para se proteger sol.

Também foram levantados itens referentes à escolaridade: 78% têm apenas nível fundamental. A média de idade dos pesquisados girou em torno dos 43 anos, sendo que o início na atividade agrícola da maioria começou aos 15 anos. Outro dado relevante diz respeito à participação das mulheres na lavoura do fumo, sendo percentualmente maioria nas faixas de idade entre 30 e 60 anos.