Colheita de cana-de-açúcar deve alcançar 616,5 milhões de toneladas na safra 2014/2015, diz Datagro

Números foram apresentados pelo presidente da entidade durante o 3º Encontro do Açúcar e Etanol, realizado em LondresA consultoria Datagro divulgou nesta sexta, dia 18, a atualização das projeções para a safra 2014/2015 da indústria sucroenergética brasileira. A empresa anunciou que espera colheita de 616,5 milhões de toneladas de cana-deaçúcar na atual safra. O volume representa queda de 5,5% ante o volume registrado na safra anterior. Segundo a consultoria, a seca e a política governamental que incentiva o consumo de gasolina estão por trás dos números.

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Números apresentados pelo presidente da Datagro, Plinio Nastari, durante o 3º Encontro do Açúcar e Etanol, realizado em Londres, mostram que a colheita brasileira de cana-de-açúcar deve somar 560,5 milhões de toneladas no Centro-Sul e 56 milhões de toneladas no Norte e Nordeste do País na safra 2014/2015.

De acordo com as estimativas da Datagro, o Brasil deve produzir 35,75 milhões de toneladas de açúcar no atual período, montante 4,9% menor que o registrado na safra 2013/2014, dos quais 32,3 milhões de toneladas no Centro-Sul e 3,45 milhões de toneladas no Norte/Nordeste. A produção de etanol deve cair ainda mais que o açúcar na atual safra: somará 25,29 bilhões de litros, volume 8% inferior ao visto no período anterior. Desse volume, 23,39 bilhões de litros deverão vir do Centro-Sul do Brasil e 1,9 bilhão de litros do Norte/Nordeste.

O índice de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), que mede a quantidade de açúcares na cana, deve ficar em 131,09 kg por tonelada de cana no Brasil na atual safra, sendo que o indicador deve somar 131,90 kg/ton no Centro-Sul e 123 kg/t no Norte/Nordeste.

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Gasolina mais barata

A queda da produção de cana, açúcar e etanol no Brasil na safra 2014/2015 é resultado especialmente do clima adverso e da política governamental de preços que favorece o consumo da gasolina. A avaliação foi feita por Nastari. Para o especialista, o setor também sofre com efeitos negativos provocados pela crise econômica e há impacto operacional do aumento da mecanização da cultura no país.

– O Brasil enfrenta um período muito seco. Isso acontece desde agosto não só em São Paulo, mas em boa parte do Centro-Sul do Brasil. Essa seca traz consequências não apenas para a cana-de-açúcar, mas também para outras culturas como o café e a geração hidrelétrica – disse Nastari.

Além do clima, Nastari atacou duramente a política de preços do governo brasileiro para o setor energético.

– O Brasil tem uma política pública distorcida de preços que subsidia o preço da gasolina para os consumidores e não para o transporte público. Além disso, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) foi reduzida para zero na gasolina e o Banco Central incentiva a valorização do real, o que estimula a importação do combustível – disse.

O dirigente defendeu que a política de preços adotada pelo governo brasileiro, especialmente pela Petrobras, faz com que o preço da gasolina atualmente no Brasil seja 17,99% menor do que a média nos Estados Unidos. Os preços são aqueles praticados pelas refinarias e foram comparados entre 1º e 11 de julho de 2014, segundo dados apresentados por Nastari. 

Nastari também comentou que a produção brasileira ainda é prejudicada pelos efeitos negativos no setor financeiro desde a crise de 2008 e há impacto operacional do aumento da mecanização em algumas áreas produtoras brasileiras.

Correção de preços

O presidente da Datagro aposta que a política de preços dos combustíveis, especialmente da gasolina, começará a mudar após as eleições presidenciais de outubro.

– Após as eleições presidenciais, esperamos o aumento dos preços da gasolina e início da correção dos valores. Podemos ter a safra 2015/2016 mais orientada para o etanol. Esperamos recuperação dos preços do biocombustível em 2015/2016 – disse.

Confirmado um cenário mais competitivo para o combustível renovável, o especialista prevê retomada da confiança de empresários e investidores.

– Só o fim dos subsídios será capaz de trazer os investimentos de volta. É preciso ter a sensação de que não haverá mais risco de intervenção do governo – reforça.

Nastari comentou, ainda, que é possível observar interesse de investidores, que estariam, apenas, à espera de um sinal positivo para retornar ao Brasil.

– Estamos vendo o capital de risco esperando um sinal de menor interferência estatal para voltar a investir – concluiu.

Estimativa da Copersucar

A Copersucar, maior trading de açúcar e etanol do mundo, reduziu nesta sexta, dia 18, sua estimativa para a safra de cana 2014/2015 no Centro-Sul do Brasil em cinco milhões de toneladas, para 565 milhões de toneladas. A revisão foi feita ao The Wall Street Journal pelo presidente do conselho da companhia, Luis Roberto Pogetti, que não afasta a possibilidade de uma moagem ainda menor. Em 2013/2014, a região processou 596 milhões de toneladas.

A expectativa da empresa é de que sejam produzidas 32 milhões de toneladas de açúcar e 24,6 bilhões de litros de etanol, dos quais 22 milhões de toneladas de açúcar e 1 bilhão de litros de etanol para exportação. Em sua estimativa anterior, a Copersucar projetava produção de 32 milhões de toneladas de açúcar e 25,4 bilhões de litros de etanol.

Pogetti, que participa de evento do setor sucroalcooleiro em Londres, avalia também que o mercado global de açúcar deve registrar um déficit de três milhões de toneladas na safra 2014/15, que se inicia em outubro. Em 2013/2014, o cenário foi de excedente.

Para o executivo, o mercado ainda não assimilou todos os efeitos da severa estiagem no Brasil nos meses de janeiro e fevereiro. A seca atingiu em cheio São Paulo, maior Estado produtor do País, justamente no momento de desenvolvimento dos canaviais. O Brasil responde por cerca de 20% de toda a oferta global de açúcar.

– Acho que ainda veremos uma elevação dos preços do açúcar nos próximos meses – disse.

Pogetti comentou, ainda, que o Terminal Açucareiro da Copersucar (TAC) em Santos (SP) já retomou a capacidade anualizada de embarque de 4 milhões a 5 milhões de toneladas. A expectativa é de que até o fim do ano o TAC opere novamente com capacidade para movimentar 10 milhões de toneladas ao ano, volume que era registrado antes do incêndio ocorrido em outubro de 2013.

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Agência Estado