Representantes de Aécio Neves e Eduardo Campos falam sobre logística, política cambial e crise do etanol

Ministro da Agricultura, Neri Geller, que representou Dilma Rousseff no lançamento do Circuito Aprosoja, também foi convidado a conceder entrevista, mas desmarcouO Canal Rural entrevistou os representantes dos presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) durante o lançamento do 9º Circuito Aprosoja, que ocorreu nesta quinta, dia 31, em Cuiabá (MT). O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, que representou Dilma Rousseff (PT) no evento, havia acordado a entrevista, mas desmarcou. Os representantes foram questionados sobre logística para o escoamento da safra agrícola, política cambial e crise do setor sucroenerg

No âmbito logístico, ambos defenderam as parcerias público-privadas como alternativas para otimizar a infraestrutura de transportes brasileira, a fim de que o escoamento agropecuário se torne mais eficaz.

Samuel de Abreu, assessor econômico de Aécio Neves: “O grupo político que lidera o Executivo há 12 anos teve uma relação muito preconceituosa com a participação do setor privado na oferta de infraestrutura e logística. Na verdade, o processo da elite dirigente ligada ao PT demorou, mas graças a Deus caminhou. Eu acho que eles evoluíram, mas foi um processo longo demais. A concessão desses serviços deve ser do setor privado, que tem totais condições de ofertar esse produto. Aconteceu um atraso por questões ideológicas, e, certamente, o nosso agronegócio está pagando um preço caro demais por essa lentidão. Eu acho que o senador Aécio Neves tem total conhecimento e familiaridade com este tipo de relacionamento entre setor público e privado. Ele foi o líder no lançamento das Parcerias Público-Privadas (PPP) no Estado de Minas Gerais, antes mesmo do governo federal. Então, eu acho que esse será um tema que vai transcorrer muito bem, e eu tenho certeza que, se Aécio Neves for eleito, haverá um grande salto nos serviços de logística do nosso país.”

Eduardo Giannetti, assessor econômico de Eduardo Campos: “O governo tem, sim, um papel fundamental a cumprir. A nossa logística, nossa infraestrutura, é muito deficiente e prejudica enormemente o espaço de crescimento do agronegócio brasileiro. Precisamos encontrar o modal adequado para o produto adequado na distância adequada. Hoje, está muito calcado em transporte rodoviário caro, não há portos que deem vazão ao fluxo na velocidade necessária. O Brasil acaba usando o caminhão como silo e a estimativa da Abag é de que cerca de 30% do preço de exportação do produto brasileiro seja perdido simplesmente pelo custo de transação, de transporte. Isto é absolutamente inviável. Só um setor extremamente competitivo como o agronegócio brasileiro é capaz de tolerar um desaforo desse tamanho e continuar existindo. Nós temos que aumentar muito o esforço de investimento em infraestrutura, tanto público quanto privado e, para isso, precisamos de um marco regulatório, a parceria público-privada. É gritante o atraso da infraestrutura brasileira (…) O modal rodoviário demorou muito para abrir para o setor privado pelo atraso de mentalidade.”

Quanto à política cambial, os candidatos defenderam o regime de câmbio flutuante. O representante de Aécio Neves levantou que o câmbio não deve ser utilizado como instrumento para conter a inflação. Já o porta-voz de Campos destacou que, apesar de o regime flutuante ser o mais adequado, o governo não deve ficar passivo e deve intervir em momentos de excesso de volatilidade.

Representante de Aécio Neves: “Sobre a política cambial, eu também acho que não tem segredo. Nós aprendemos nos últimos 30 anos, com muitas dificuldades, que um país grande como o Brasil tem que ter um câmbio flutuante. Não dá para ter câmbio fixo, as paridades mudam. Você tem progresso tecnológico, a competitividade muda e querer fixar uma taxa cambial não dá certo. Temos, há pouco mais de uma década, o exemplo da Argentina, que quebrou lutando contra o seu câmbio fixo. Então, nós aprendemos às duras penas, que o melhor regime cambial é o regime flutuante. O agronegócio tem boa parte dos seus custos em dólar, mas também boa parte da produção é exportada, então é um setor que não sofre com oscilações na cotação. Precisamos de um realismo cambial. Por exemplo, nós sabemos hoje que o governo está fazendo uma política para segurar a moeda americana, impedir uma desvalorização maior do real porque está com medo da inflação. Esse tipo de coisa não pode acontecer. O câmbio não é instrumento para combater a inflação. É política fiscal e política monetária. Eu acho que nesse campo nós temos que voltar ao que tínhamos em 2008. Nós aprendemos e construímos um regime macroeconômico muito bom, que foi piorado nos últimos anos, mas pode ser reconstruído.”

Representante de Eduardo Campos: “O regime brasileiro é câmbio flutuante, mas isso não significa que o governo vai ficar inteiramente passivo. Quando há excesso de volatilidade é parte desse regime uma intervenção para eliminar a volatilidade. Não se pode comprometer com níveis de câmbio que não correspondem à realidade do mercado. Claramente, hoje o real está sobrevalorizado. Todos os indicadores indicam e o Banco Central está intervindo pesadamente para manter em caráter crônico a sobrevalorização.”

Diante da forte crise que acomete o setor sucroenergético, o representante do candidato do PSDB defendeu uma “recomposição de preços da gasolina” para estimular a competitividade do etanol. Já o encarregado de defender o PSB criticou a atual política do represamento de tarifas públicas para controlar a inflação, mas não apresentou uma diretriz específica para “salvar o setor sucroenergético“. 

Representante de Aécio Neves: “Essa é uma tecnologia quase toda nacional, uma cadeia longa, um setor belíssimo, e está sofrendo muito com o fim da Contribuição Sobre Intervenção do Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina. Não faz o menor sentido tirar essa tributação. O setor sofre muito com o controle do preço da gasolina. Nós sabemos que não faz sentido estimular o combustível fóssil neste momento da nossa sociedade. No século 21, política para subsídio de combustível fóssil é algo que não interessa a ninguém. Por outro lado, nós sabemos que o setor do etanol é muito dinâmico, produtivo e competitivo. O problema é que ele está se defrontando com uma competição desigual, que é esse subsídio. A gente precisa de realismo de preço. Os mercados precisam funcionar e haverá, lentamente, uma recomposição do preço da gasolina. Isso precisa existir. Vai ser um processo lento, não dá para fazer de uma vez só, mas o caminho para o setor do etanol é essa recomposição de preços, inclusive para que nós possamos estimular a sociedade para que utilize uma energia limpa e renovável e que use menos uma energia que suja o ambiente e dificulta a vida de todo mundo.”

Representante de Eduardo Campos: “O governo de Dilma utilizou o represamento de tarifas públicas, os chamados preços administrados, para tentar controlar inflação a curto prazo. Prejudicou enormemente a Petrobras e, sem dúvida nenhuma, do etanol. O preço do combustível de cana é atrelado à gasolina, aos preços dos derivados de petróleo e isso prejudicou enormemente um setor no qual o Brasil tem tudo para deslanchar, inclusive globalmente, e foi vítima de um intervencionismo desastrado do governo, como aliás aconteceu também no setor elétrico.  É muito triste ver o que está acontecendo com o etanol brasileiro, um setor que tinha tudo para estar florescendo, para estar, realmente, desenvolvendo uma energia renovável, que é muito superior a dos derivados de petróleo do ponto de vista ambiental e que, no entanto, foi pega no contrapé por essa intervenção estatal. Em vez de pedir ajuda do governo, o setor tem que exigir que o governo atrapalhe menos. O que o governo faz no Brasil é atrapalhar.”

Entrevista completa com Samuel de Abreu:

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Entrevista completa com Eduardo Giannetti:

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Assista à reportagem do Rural Notícias:

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