Ministério Público Federal e Polícia Federal fazem operação a favor de terra indígena

Segundo investigação, organização criminosa atuava para impedir que etnia Xavante ocupasse terra indígena Marãiwatsédé, demarcada desde 1998A Polícia Federal cumpriu, nesta quinta, dia 7, cinco mandados de prisão, oito mandados de condução coercitiva e 17 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça Federal, a pedido do Ministério Público Federal, contra a organização criminosa envolvida com a invasão da Terra Indígena Marãiwatsédé, em Mato Grosso.

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As medidas estão sendo cumpridas em nove municípios, nos estados de Mato Grosso, Goiás e São Paulo, nas cidades de Alto Boa Vista (MT), São Felix do Araguaia (MT), Confresa (MT) Querência (MT), Cana Brava do Norte (MT), Água Boa (MT), Rondonópolis (MT), Goiânia (GO) e Cedral (SP).

Entre os cinco mandados de prisão temporária estão o presidente da Associação dos Produtores de Suiá-Missú (Aprossul), Sebastião Ferreira do Prado e o ex-presidente, Renato Teodoro. Também consta o vereador Osvaldo Levino de Oliveira (PP).

O procurador da República em Mato Grosso Wilson Rocha esclareceu em entrevista ao Mercado e Companhia que “as prisões temporárias são realizadas para dar continuidade às investigações e não representa um juízo definitivo de culpa”.

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Segundo a investigação do Ministério Público Federal e Polícia Federal, a organização criminosa atuava de modo a impedir que a etnia Xavante usufruísse da terra indígena Marãiwatsédé, definitivamente delimitada, demarcada e homologada desde 1998.
 
Mesmo com confirmação, pelo Supremo Tribunal Federal, da ordem judicial para retirada dos não índios do interior da terra indígena Xavante, a quadrilha aliciava pessoas para invadirem novamente a área, dificultando o trabalho da Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal e Força Nacional.
 
A retirada de todos os não índios de Marãiawtsédé iniciou em dezembro de 2012, e teve continuidade até o março de 2014. Centenas de policiais e servidores da Funai de todo o Brasil estavam mobilizados para impedir as constantes reinvasões da terra indígena.

Investigação

Durante as tentativas de reocupação, a intenção dos líderes do grupo responsável pelas sucessivas invasões era convencer a opinião pública de que o retorno do povo Xavante ao seu território tradicional prejudicava supostos direitos de pequenos produtores rurais e famílias
humildes.

– As investigações em curso, contudo, demonstram que se tratava, na verdade, da manipulação dessas pessoas para defender os interesses de grandes produtores rurais e políticos da região, que tinham fazendas dentro dos limites de Marãiawtsédé – diz a nota divulgada pela Procuradoria Geral da República.
 
Segundo o texto, as investigações já realizadas evidenciaram que os “populares” que participaram de diversos atos, alguns de caráter criminoso, eram cooptados pela quadrilha, que mobilizava famílias de outras cidades transportando-as, com todos os seus pertences, para dentro da terra indígena. Os invasores recebiam apoio logístico, lonas e alimentação do grupo criminoso, que lhes prometia ainda glebas de terra no interior da área indígena.

A associação criminosa recebia recursos de apoiadores de outros Estados para financiar suas atividades, de modo a inviabilizar o acesso de índios aos seus territórios. A influência do movimento estendia-se a conflitos envolvendo direitos indígenas nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Bahia e Paraná.

Entre os crimes investigados está o de invasão e grilarem de terras públicas, incêndio em edifício público, ameaça, associação criminosa armada, roubo, furto, sequestro e cárcere privado.
 
Marãiwatsédé

Com cerca de 165 mil hectares, a terra indígena Marãiwatsédé, localizada no município de Alto Boa Vista, São Felix do Araguaia e Bom Jesus do Araguaia (MT), foi declarada de ocupação tradicional indígena pela Portaria 363 do Ministério da Justiça (de 1º de outubro de 1993) e teve a demarcação territorial homologada por decreto do presidente da República em 1998. Atualmente, cerca de 900 Xavantes vivem na área, da qual foram retirados na década de 1960, durante a Ditadura Militar.

– A retirada dos não-índios que ocupavam indevidamente a terra indígena foi determinada por decisão judicial exarada em ação ajuizada pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso – coloca o MPF, em nota.

Frente Parlamentar da Agropecuária se posiciona contra ação do MPF

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), constituída por deputados e senadores, repudiou em nota a prisão do produtor rural Sebastião Prado.

– Há informações, ainda não confirmadas, que outros líderes rurais podem ser presos a qualquer momento, o que vem causando um ambiente de insegurança jurídica na área, onde se desenvolvia a pecuária e se produziam alimentos.

O advogado do líder ruralista ainda não teve acesso ao processo, diz a nota, que questiona as acusações feitas aos indiciados. 
Para a FPA, “trata-se de uma atitude política com o intuito de inibir ações dos produtores que se manifestam pelo direito da propriedade e contra a insegurança jurídica”.

– O objetivo da operação seria retirar todas as famílias que não tivessem etnia xavante de uma área de 165 mil hectares demarcada pela Funai. O local estava ocupado por agricultores que tentaram resistir à desocupação da área. Sebastião Prado é considerado líder desse movimento de resistência (desintrusão).

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