Abertura da Rússia a alimentos brasileiros gera expectativa positiva no setor agropecuário

Restrições impostas a países da Europa e aos Estados Unidos devem durar 1 ano. Além de carnes, frutas e verduras também estão na pauta de exportação brasileiraA Rússia já é o segundo maior cliente de carne bovina do Brasil. De janeiro a julho foram embarcadas 184 mil toneladas de carne para a Rússia, crescimento de 8,5% no faturamento e expansão de 4% no volume, em relação ao mesmo período do ano passado. A média mensal de exportações de carnes brasileiras para a Rússia é de 25 mil a 30 mil toneladas. Diante do aumento das plantas exportadoras, em julho foram embarcadas 40 mil toneladas.

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O embargo da Rússia à importação de produtos alimentícios provenientes dos Estados Unidos e da União Europeia, entre eles carnes bovina e suína, eventualmente pode abrir mais oportunidades para as exportações de carnes para aquele país, disse nesta quinta, dia 7, o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Fernando Sampaio. De acordo com ele, as medidas retaliatórias aos países que impuseram sanções à Rússia por conta da crise com a Ucrânia ocorrem no melhor momento das relações entre os departamentos veterinários do Brasil e o país presidido por Vladimir Putin.

– Muito do crescimento das exportações brasileiras deve-se à demanda da russa. Temos relações comerciais muito intensas com aquele país e nos últimos meses melhoraram ainda mais – contou Sampaio.

ABPA

Conforme dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), entre janeiro e junho a Rússia respondeu por 48,08% das vendas externas de carne suína em receita e 35,51% em volume, sendo o principal destino das vendas do país. A notícia da ampliação das vendas para a Rússia cria uma oportunidade ao setor de suínos brasileiro, mas os investimentos para incremento de produção para atender à demanda devem ser bem planejados, diz o vice-presidente de suínos da ABPA, Rui Vargas. Segundo ele, a Rússia é um mercado que compra bons volumes e remunera bem, mas está sujeito a “instabilidades”.

– Já tivemos suspensões inexplicáveis. Em 2006, aumentamos nossa produção para atender ao mercado e dois, três anos depois a Rússia desiste de comprar o volume prometido. O embargo de junho de 2011 dos três Estados (Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná) deixou o setor em uma situação ruim, apesar de conseguirmos escoar parte da produção para Venezuela, Ucrânia, Angola, Hong Kong. Essa recente decisão das autoridades russas cria oportunidades, mas caberá a cada empresa avaliar os riscos a todas essas questões – lembrou.

Vargas disse que desde a semana passada a Rússia autorizou mais seis unidades brasileiras de carne suína a exportar ao país.

– Ainda fica difícil mensurar quanto teremos de incremento de vendas, porque precisamos transformar as notícias em negócios. Mas o gesto da intenção é muito positivo – afirmou.

Scot

A Scot Consultoria ainda não estimou qual deve ser o incremento das vendas para a Rússia, mas o analista Alex Santos Lopes da Silva prevê um aumento da demanda por corte de dianteiro bovino, o mais valorizado. Ele, porém, não acredita que haverá alteração significativa dos preços da arroba no país, que exporta 20% do que produz.

– O que vem ditando o mercado é a oferta. No primeiro semestre vimos recordes de preços devido a poucos animais para o abate, mesmo com uma demanda interna não muito boa. Em julho, algumas ofertas de animais de confinamento foram antecipadas e ainda num ambiente ruim, e os preços recuaram. Se fosse Europa que tomasse essa decisão, onde há um ágio pela qualidade da carne, poderia haver influência nos preços da arroba. Mas para a Rússia, não – disse.

O especialista ainda disse que para as outras carnes – suínos e frangos – a decisão da Rússia em liberar mais unidades para exportação também beneficiará a cadeia.

– Mas são setores que têm mais flexibilidade de ajustes de oferta e demanda, e aí fica mais difícil prever o que pode acontecer com preços, por exemplo.

Atenção à sanidade

A Rússia não permite a utilização da ractopamina, e num passado recente foi detectado o promotor de crescimento, em lotes brasileiros de carne bovina e suína ao país, o que provocou embargos – a suspensão de maior impacto negativo sobre as exportações nacionais de carnes ocorreu em junho de 2011.

– Não podemos é desagradar ao mercado russo com assuntos que não sejam aceitos por eles. E ficarmos atentos se muitas das liberações possam ser renegociações de valores de embarques – ressaltou.

Silva também alerta para a concentração das vendas externas do setor em alguns mercados.

– Hoje, 60%, 70%, das vendas de carne bovina são para cinco, seis clientes. Mas a decisão da Rússia é uma boa notícia – disse.

Apex Brasil

O embargo de Moscou às importações de alimentos, como peixes, carnes bovinas e suínas, frutas e vegetais, dos Estados Unidos e União Europeia não sugere garantias automáticas de que as exportações brasileiras para aquele país devem crescer, segundo o gestor de Promoção Comercial e Agronegócio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Maurício Manfrê.

A ressalva se faz necessária, segundo ele, porque os produtos que entraram na lista de embargo da Rússia são exatamente os que mais enfrentam barreiras sanitárias, técnicas e de origem.

– Antes de discutirmos as possibilidades de crescimento das exportações para a Rússia, temos que ver se o Brasil não se insere em nenhuma destas barreiras e se temos excedentes para atender a demanda da Rússia – disse o gestor da Apex Brasil.

De acordo com Manfrê, além de as barreiras técnicas serem as que mais causam problemas aos embarques brasileiros, há ainda que se verificar as cotas de exportações, “restrições ou tetos específicos impostos por um país exportador sobre o valor ou volume de certas exportações para proteger os produtores e os consumidores nacionais da escassez temporária dos produtos em questão ou para aumentar os seus preços em mercados mundiais”.

União Europeia pode ajudar a aliviar impacto de restrições russas a produtores do bloco

Produtores franceses pediram ajuda à União Europeia nesta quinta, dia 7, para aliviar o possível impacto das restrições russas à importação de alimentos do bloco. A medida russa será negativa para agricultores e poderá levar a um excesso de oferta de alguns produtos em mercados europeus, resultando em preços mais baixos, disse Xavier Beulin, presidente do maior sindicato de agricultores da França.

– Agricultores tentarão vender no mercado doméstico os produtos que não podem exportar para a Rússia, ao preço que conseguirem. A UE pode usar fundos contra crises para mitigar os possíveis efeitos das restrições – disse.

Um porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, disse que ações específicas só serão discutidas após avaliação cuidadosa do alcance das medidas russas.

Embora a Rússia seja um grande produtor de cereais, importa grandes volumes de frutas, vegetais, carne e produtos lácteos. Da França, são comprados entre 700 milhões e 1 bilhão de euros em alimentos anualmente, segundo estimativa de Beulin. Vinhos e destilados, que não estão na lista de restrições, respondem por 40% desse total. O restante das importações é de frutas, vegetais, queijos e carnes suína e bovina.

A proibição das importações de alimentos tem prazo de um ano. As restrições incluem carnes bovina e suína, aves, peixes, frutas, vegetais, queijos, leite e quaisquer outros produtos de uso diário. A medida foi uma resposta aos países que impuseram sanções à Rússia, e afeta produtos da União Europeia, dos Estados Unidos, da Austrália, do Canadá e da Noruega.

Assista aos comentários de Daniela Castro:

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Veja a reportagem do Jornal da Pecuária:

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Brasil pode sofrer retaliação da Europa e dos Estados Unidos:

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