Canal Rural chega em Angola para inauguração da primeira usina de açúcar, etanol e energia elétrica do país

Biocom deve abastecer o mercado nacional de açúcar, gerar 23 milhões de litros de etanol e 235 GWh de energia elétrica por anoApós oito horas de voo sobre o oceano Atlântico, a equipe do Canal Rural desembarcou em Angola na madrugada de domingo, dia 24, para acompanhar a inauguração da  Biocom (Companhia de Bionergia de Angola), primeira usina de açúcar, etanol e energia elétrica do país, que deve abastecer a demanda interna. A instalação provém de uma parceria entre a Odebrecht, o grupo angolano Cochan e a estatal petroleira Sonangol. Em setembro, você poderá conferir no Rural Notícias reportagens sobre a usina e sobr

Confira abaixo o diário de bordo da repórter Estela Facchin:

O primeiro dia no país do sudoeste africano foi dedicado a conhecermos Luanda, a capital, que inchou nas últimas décadas. São quase cinco milhões de habitantes, muita gente vinda do interior em busca de proteção no período de Guerra Civil, que durou quase 30 anos e terminou em 2002. O país nasceu de novo há apenas 12 anos. A construção civil é um dos setores que mais crescem por aqui. Luanda se reergue, literalmente. Uma terra promissora, grande produtora de petróleo e diamantes, mas cheia de contrastes, com muita pobreza, falta de estrutura e saneamento básico.

A agricultura também está em fase de reconstrução. Com todas as lavouras destruídas pela guerra, o país recupera aos poucos a vocação para plantar. Boa parte da alimentação dos angolanos ainda vem de fora, como o açúcar, que é praticamente todo importado de países como Brasil, África do Sul e Portugal. Iniciativas como a Biocom entram para mudar este cenário.

A primeira usina de açúcar, etanol e energia elétrica do país deve abastecer o mercado nacional de açúcar, com 256 mil toneladas por ano, e ainda gerar 23 milhões de litros de etanol e 235 GWh de energia elétrica. O projeto é uma parceria entre a Odebrecht, o grupo angolano Cochan, cada um com 40% de participação, e a Sonangol, estatal de petróleo de Angola, que detém outros 20%.

O diretor geral da Biocom, Carlos Henrique Mathias, nos concedeu entrevista no fim do dia, para falar do empreendimento, que acaba de entrar em funcionamento em Cacuso, na província de Malanje, a cerca de 400 quilômetros de Luanda. É para lá que viajaremos hoje, nesta segunda. Eu e o cinegrafista Antônio Alencar, junto a uma comitiva de jornalistas brasileiros, conheceremos de perto as plantações de cana e as instalações da usina.

  

Nossa equipe: Estela Facchin e Antônio Alencar

A Biocom já nasce como a maior produtora de alimentos e um dos três principais empreendimentos de Angola. A produção de açúcar kapanda será destinada à demanda interna do país e abastecerá 70% do consumo, pois será comercializado para grandes distribuidoras de alimentos, especialmente de refrigerantes e redes de supermercado. O etanol será vendido às distribuidoras de combustíveis para ser adicionado à gasolina e 30% da energia produzida a partir da queima do bagaço, cavaco e resíduos de madeira garantirá a autossuficiência energética da empresa.

Os 70% excedentes serão vendidos às centrais de abastecimento do país. A quantidade é suficiente para abastecer mais de 335 mil pessoas, o equivalente a toda a província de Malanje.

A inovação é um dos grandes diferenciais competitivos da Biocom: variedades de cana-de-açúcar brasileiras, indianas e sul-africanas estão sendo testadas em viveiros controlados para se chegar às que melhor se adaptam ao solo e clima da região de Cacuso. No momento, a empresa planta mais de 25 variedades de cana, que estão sendo testadas e selecionadas com o objetivo de obter maior produtividade agrícola e a melhoria da matéria-prima. O manejo varietal permite escolher o material genético ideal para o plantio comercial, influenciando no tempo de corte e na qualidade da colheita.

A companhia conta com 7,4 mil hectares de área cultivada. O plantio e a colheita são 100% mecanizados e a força de trabalho é composta principalmente por moradores das comunidades do entorno. Hoje, 94% dos integrantes são angolanos e 6% são expatriados brasileiros mobilizados para transferir os conhecimentos sobre o setor de bioenergia para o país. O objetivo é que, no quinto ano de operação, seu quadro seja composto 98% por mão de obra nacional.

Feita por angolanos

Com a previsão de alcançar a maturidade produtiva na safra 2019/2020, a empresa tem como prioridade a transmissão do conhecimento e a valorização da força de trabalho nacional. No apoio à qualificação profissional, a Biocom tem a parceria do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) do Brasil, que mantém professores em Angola e já computa mais de 300 técnicos formados em elétrica, automação mecânica e processo industrial.