Especialistas dizem que crise na Argentina não deve afetar o agronegócio brasileiro

Produtores acreditam que podem ocupar espaço do mercado do país vizinhoA crise econômica enfrentada pela Argentina, com expectativa de um calote aos credores, não deve afetar o agronegócio brasileiro. É a avaliação de especialistas que acreditam que as exportações brasileiras que serão prejudicadas, serão as dos produtos manufaturados e da indústria automobilística. Ao mesmo tempo, produtores acreditam que podem ocupar o espaço deixado pelos argentinos se o impasse com os credores não for solucionado.

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Com a inflação acima dos 30% e praticando o segundo calote técnico na dívida externa em 15 anos, a Argentina enfrenta uma crise que pode continuar ao longo de 2015, de acordo com especialistas. O produtor José Fava Neto planta 20 mil hectares de soja e milho em Goiás e na Bahia. Ele acredita que os problemas enfrentados pelos agricultores do país vizinho possam beneficiar, de alguma forma, os produtores brasileiros.

– Esse problema da dívida deles afeta a credibilidade do país e tudo que afetar a produção deles, teoricamente seria benéfico para nós. Lógico que a gente não torce contra a argentina. Se o produtor estiver capitalizado, ele vai retrair as vendas. Num curto prazo, vai vender, e a hora que colocar esse produto, o mercado vai contabilizar o somatório de todas as produções – diz.

Os produtores argentinos já sinalizaram que vão estocar soja no segundo semestre do ano, se o governo não conseguir fechar acordo com os credores. Serão 23 milhões de toneladas do grão, quase metade da capacidade de produção do país, que é o terceiro exportador de soja do mundo. Para o economista e ex-ministro da fazenda, Mailson da Nóbrega, a produção brasileira não deve contar com a crise argentina para vencer novos mercados.

– A Argentina em alguns momentos chegou a importar carne. O Brasil teve acesso a mercados que eram da argentina, mas se recupera rápido, a pecuária da argentina é muito competitiva. Em duas safras, se a situação econômica não se agravar tanto quanto se espera, o Brasil não deve estar contando com abandono de mercados de carne da Argentina para ocupar o seu lugar – explica Nóbrega.

A Argentina é o terceiro maior destino das exportações brasileiras, mas com a crise no país, as vendas caíram 20% neste primeiro semestre, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil. O setor mais afetado é o automobilístico. Analistas brasileiros acreditam que o impacto no agronegócio em geral será pequeno.

– Nós podemos ver, se essa situação se agravar, uma ampliação do que tem sido a característica do comércio exterior da Argentina, ou seja, restrições às importações, dificuldade de concessão de licenças de importação. No âmbito do agronegócio o efeito não é relevante. O Brasil e Argentina não tiram mercado um do outro. São dois mercados muito competitivos, clientes da china. O efeito da crise se dá essencialmente nos manufaturados e na produção automobilística, que contabilizam cerca de 80% das exportações, isso vai ser um baque – avalia o economista.

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