– No ano passado, nós tivemos problemas com a geada. Este ano, não tivemos problemas com a geada. Nós tivemos problemas com a chuva – conta o produtor rural Deodato Matias.
Matias também é secretário de Agricultura do município de Arapuã. Depois de uma semana de chuva no final do mês passado, ele o filho não querem perder tempo agora. Estão com duas máquinas no campo trabalhando até à noite para compensar o atraso. Jefferson Matias, que toca a fazenda com o pai, diz que falta menos de 30% para ser colhido. O trabalho começou no dia 25 de setembro, mas teve que ser interrompido por causa da chuva.
– Essa chuva atrasou a colheita e também houve um pouco de perda na produção, porque afetou a qualidade, andou debulhando, foi muita chuva – reclama o produtor.
No município, que tem 10 mil hectares de plantação de trigo, em poucos dias já termina a colheita. Agora o problema é saber o quanto o clima comprometeu a qualidade do trigo que está sendo colhido. Calcula-se que, em Arapuã, pelo menos 20% de todo o trigo está abaixo do que exige o mercado.
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O que acontece é que as chuvas derrubaram o PH do grão colhido, uma medida de qualidade bastante usada pelos moinhos. Um nível aceito pela indústria é PH acima de 78, que segundo o empresário Huguiyoski Sugeta, era até comum encontrar antes da chuva. Sugeta trabalha com comércio de grãos, recebe o produto do campo, faz o beneficiamento e encaminha para os moinhos. Ele diz que deixou de receber trigo nesta última semana, porque não tem como separar o grão de boa qualidade, do ruim.
– Abaixo desta qualidade não recebo, porque vai estragar todo o lote de trigo bom na comercialização – explica.
O problema é que se a semente não for resistente, acaba germinando com a chuva, como aconteceu em muitas lavouras. E trigo germinado, a indústria não aceita. Cabe ao produtor, diz Fernando Wagner, que é gerente comercial de uma empresa que trabalha com genética de sementes de trigo, usar cultivares que não germinem na pré-colheita. A decisão, garante ele, não implica em maiores custos para o produtor e tem sido, cada vez mais, a solução.
– O que o produtor pode fazer é o seguinte: na previsibilidade dele, que deve acontecer lá no verão, escolher cultivares que tenham dentro da sua genética resistência à germinação em pré-colheita. Isso depende de dormência, é uma característica genética do material. De nada vale ter uma cultivar que renda muito, que tenha uma alta qualidade industrial, se geneticamente ela não te entrega segurança. Afinal, o produtor tem todo o seu patrimônio a céu aberto, então ele tem que estar preparado para estes momentos mais difíceis – orienta Wagner.
Jefferson garante que ele e o pai têm esta preocupação. Tanto que as perdas que tiveram foram menores que a média do município. Nesta safra, eles esperavam tirar até 80 sacas de trigo por hectare, vai ficar na casa das 60 até 70, acredita. Na região, a média não passa de 50 sacas por hectare.
– Se o tempo correr bem, no final da colheita a nossa qualidade vai superar tudo, então vai ter uma produção boa ainda – aposta Jefferson.
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