Com a estiagem, a produção de flores em um sítio em Atibaia, no interior paulista, teve que se adaptar. Os crisântemos que eram plantados em estufas e que consumiam cerca de 20 mil litros de água por dia por estufa foram substituídos por flores que tem um consumo de 500 litros por dia. É o caso das cravíneas, das petúnias e das vincas que são plantadas em vasinhos, o que ajuda a economizar ainda mais água. O problema é que estas flores diminuíram a renda da agricultora em cerca de 70%. Cada vasinho é vendido por cerca de R$ 2.
A irrigação é feita por fios que levam água e também adubo para cada vaso, sem desperdício. Uma parte da produção de crisântemos é mantida com a irrigação tradicional, pelo aspersor. Isso só é possível porque a propriedade tem poço artesiano desde o início do ano. Mas até agora a produtora de flores Mariza Kobayashi ainda não conseguiu pagar os R$ 70 mil cobrados para a perfuração do poço.
– Até hoje ainda corro atrás dos bancos para que consiga fazer um financiamento e pagar este poço artesiano.
Na região de Campinas, os poços artesianos têm em média 150 metros de profundidade. Fernando Daleffe é diretor de uma empresa que realiza a perfuração de poços e diz que com a falta de chuva a procura dobrou.
De acordo com o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), de janeiro a setembro deste ano houve aumento de 19% no número de licenças para novos poços artesianos no Estado, com 788 outorgas concedidas. Para o professor e diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas da Universidade de São Paulo, Reginaldo Bertolo, há um grande número de poços perfurados sem autorização.
– Eu tenho um número que é perto de 27 mil poços registrados no Estado de São Paulo pelo DAEE, só que a gente sabe que pra cada poço que é registrado tem outros três ilegais. Então a gente estima que sejam mais de 100 mil poços no Estado de São Paulo – afirma.
Para o professor, no meio rural, dependendo da profundidade do poço, há o risco de contaminação. Por isso, é necessário o acompanhamento periódico da qualidade da água.
– Contaminantes comuns de águas subterrâneas rasas, como derivados de fertilizantes ou agroquímicos podem deixar essa água imprópria para irrigação e especialmente para consumo humano – explica Bertolo.