Em um ano, o número de contratos abertos mais que dobrou. A safra brasileira do grão atingiu 79,9 milhões de toneladas na temporada 2013/2014, 2% menor que a colhida no ciclo anterior, mas após dois anos de preços abaixo do mínimo de garantia durante a safra, em virtude do excedente de produção, agricultores começam a buscar alternativas de proteção de preço, sem depender da subvenção do governo, garantindo a renda no campo.
Segundo dados do fechamento de outubro da bolsa, foram negociados 16.721 contratos de opção em outubro, volume 379,4% superior ao registrado em igual período de 2013. Ante setembro, quando 14.938 contratos foram negociados, o avanço foi de 11,9%. No acumulado do ano, são 110.348 contratos, 131,7% a mais que os 47.628 registrados de janeiro a outubro de 2013. Cada contrato corresponde a 270 toneladas. Existem, ainda, os contratos de opção negociados em balcão, sem registro pela BM&FBovespa.
Para o analista de grãos da INTL FCStone Giovani Damiano, o crescimento do mercado de derivativos (futuros e opções) está diretamente relacionado ao aumento do tamanho da produção brasileira do cereal e também a um maior nível de conhecimento das ferramentas financeiras por parte do setor produtivo.
– Os volumes de BM&FBovespa em opções e futuros estão crescendo, porque estão trazendo bons resultados para operações de hedge – disse.
No entanto, a liquidez da BM&F ainda é reduzida quando se olha para o tamanho da produção e também dos negócios na Bolsa de Chicago, onde a atuação de fundos é maior. Considerados os números de 2013, a BM&F movimentou 19,9 milhões de toneladas no mercado futuro, considerando todos os vencimentos do período, o equivalente a 0,29 vezes a produção nacional, enquanto a CBOT, também em 2013, registrou 8,16 bilhões de toneladas negociadas, ou 23 vezes o tamanho da safra norte-americana. No acumulado de 2014, o volume negociado na BM&F está em 22,8 milhões de toneladas, ante 7,499 bilhões de toneladas na CBOT.
Com a tendência de queda dos preços do cereal, o instrumento financeiro é alternativa para produtores que querem garantir remuneração. Apesar da reação das cotações domésticas do cereal no mês de outubro, a expectativa ainda é de estoque de passagem de 15 milhões de toneladas ao fim de janeiro de 2015, volume que deve continuar exercendo pressão baixista sobre o mercado doméstico.
Ao comprar uma opção de venda, o produtor paga um prêmio para fixar o preço de venda do cereal em uma determinada data e nível remunerador, mesmo que o mercado sofra desvalorizações. Se o preço do cereal subir, o produtor pode optar por não exercer a opção e vender o produto no mercado.
O operador Alex Hildenbrandt, da Mauá Corretora, explica que os contratos são travados com base nos preços dos futuros negociados na BM&FBovespa, e o prêmio pago pelo produtor oscila e depende de qual porcentual do valor da tela ele pretende fixar no contrato de opção e também o prazo de vencimento do papel.
Como exemplo, Hildenbrandt disse que opções de venda no vencimento março na BM&F, cotado a R$ 30,51/saca, tinham prêmios de R$ 1,55/saca na sexta, dia 7. No valor de prêmio, segundo ele, estão embutidas as taxas da bolsa e também os custos da corretora.
Anselmo José Chiapinotto, produtor de Jaciara, em Mato Grosso, fez 10 contratos de opção de venda na safrinha de milho 2013/2014, após exigência de garantias pelo banco para a concessão do crédito rural para o custeio da produção.
– Fiz esses contratos só para aprender – disse. Os papéis correspondem a cerca de 4,5 mil sacas, de um total de 250 mil sacas colhidas na temporada, afirmou o produtor rural.
Para a próxima temporada, Chiapinotto espera elevar o porcentual da safra com preço garantido por meio de contratos de opção. Ele cultiva 3,3 mil hectares de soja e pretende destinar cerca de dois mil hectares para o milho safrinha nesta temporada. Para fixar novos contratos, espera que os preços do cereal, base Campinas (SP), se aproximem dos R$ 32/saca nos próximos meses, quando pretende comprar contratos de opção de venda.
– Quando o milho está na alta, tem que travar – afirmou.
O Ministério da Agricultura já sinalizou que estuda uma proposta para que o governo subsidie parte dos custos da operação no mercado de opções como novo programa de garantia de renda ao produtor. No fim de setembro, o então secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Seneri Paludo, afirmou que existe um estudo dentro da pasta para que o ministério subsidie o custo de compra do contrato.
Hoje, o principal instrumento de garantia de preços é o Programa de Garantia de Preço Mínimo (PGPM), que implica intervenção direta no mercado. Há duas safras, a Companhia Nacional de Abastecimento realiza leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) para ajudar no escoamento da safra e sustentar os preços do cereal.