Seca e período de piracema fazem pescadores do Triângulo Mineiro dependerem de seguro

Rio Grande, principal rio da região, enfrenta pior seca dos últimos 80 anos; pesca caiu à metadeCom o início da piracema, como é o conhecido o período de defesa para reprodução natural dos peixes, os pescadores do Triângulo Mineiro estão impossibilitados de trabalhar. Para piorar a situação, o Rio Grande, um dos principais da região, enfrenta a pior seca dos últimos 80 anos.

As chuvas nas últimas semanas não foram suficientes para amenizar a situação e as margens recuaram quase 200 metros. Em alguns pontos é possível ver as pedras ao fundo. O rio, que por muito tempo sustentou milhares de pescadores está em situação alarmante.
 
– Antes, com a cheia, a gente pescava na faixa de 400, 350 quilos por mês. Agora, como rio baixou, (a pesca) caiu para 100, 150 quilos no máximo. E não tem como a gente ir aonde o peixe está, porque a água está muito baixa e o peixe também não tem condições de subir – reclama Wilson dos Reis Ferreira, pescador.
 
A vegetação, que ficava coberta pela água, hoje toma conta da estrada, até a metade do rio. A pesca na área diminuiu quase 80%, um cenário nunca visto antes.
 
– Desde 1981 que eu não via uma seca tão forte, do jeito que está esse ano. Em 1981 a gente ainda navegava, esse ano já ficou quase impossível navegar. A pesca caiu, porque a água diminui e o peixe vai procurar lugares mais fundos – conta o presidente da Associação dos Pescadores, João Batista Marques.
 
Mesmo com a chegada da chuva, os pescadores não poderão retornar às atividades, porque essa semana teve início a piracema, ciclo natural de reprodução dos peixes de água doce. Quem não respeitar esse período, paga multa que varia de R$ 1 mil a R$ 100 mil; perde a carteira e fica sujeito à detenção prevista em lei. Por isso, por aqui, peixe mesmo, só em março do ano que vem.
 
– Nós temos do dia 1º de novembro a 28 de fevereiro esse período de defesa da piracema, qualquer pessoa que for flagrada praticando pesca em local proibido vai ser presa em flagrante, de acordo com o artigo 34 da lei 9.905 – orienta o comandante do agrupamento do Meio, Jair Alves Peixoto.
 
Impedidos de executar a atividade, muitos pescadores sobrevivem do seguro defeso, pago pelo governo federal, no valor de um salário mínimo. Mas Ferreira fica assustado, com 70% da renda comprometida e sem trabalho para os próximos meses:
 
– Se a gente arrumar outro serviço e a fiscalização pegar a gente trabalhando em outro bico também, a gente perde a carteira, perde o seguro, perde tudo. Então, a gente fica dependente desse seguro. O negócio vai ficar feio, não vai ficar apertado, vai ficar feio, até abrir essa pesca, nós vamos passar apertados – lamenta o pescador.