São Paulo terá 369 mil hectares disponíveis para novos plantios até 2017

Com a eliminação total da queimada de cana-de-açúcar no Estado a partir de 2017, a colheita deverá ser completamente mecanizadaMais de 3,6 mil quilômetros quadrados de áreas agrícolas paulistas terão de receber uma nova cultura ou destinação até 2017. Trata-se de áreas em declive, atualmente ocupadas com cana-de-açúcar. 

Com a eliminação total da queimada no Estado a partir de 2017, a colheita da cultura deverá ser completamente mecanizada, método difícil de ser aplicado em plantações com declives superiores a 12%. Com isso, uma nova fronteira agrícola de tamanho equivalente a mais da metade do Distrito Federal será aberta no interior de São Paulo.
 
O trabalho de pesquisa “Impacto da mecanização da colheita da cana-de-açúcar nas áreas declivosas do Estado de São Paulo”, realizado pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa (Gite) em parceria com o Departamento do Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cruzou imagens de satélites do relevo paulista e mapas digitais de suas culturas, indicando onde estão as lavouras de cana que ocupam esses declives acentuados. Além disso, o grupo relacionou esses dados ao tamanho da área agrícola de cada município, apontando aqueles que sofrerão maior impacto com as mudanças na colheita da cana. Para chegar aos resultados, o estudo utilizou conjuntos de dados temáticos e softwares para análises de geoprocessamento.
 
– Antes desse trabalho, havia apenas estimativas imprecisas que se mostraram subestimadas. Algumas pessoas acreditavam que as áreas afetadas corresponderiam a menos de 3% da área de cana-de-açúcar no Estado. No entanto, ficou demonstrado que as lavouras a serem liberadas representam 6,7% – conta o pesquisador do Gite Evaristo de Miranda, coordenador do trabalho. 

O resultado foi apresentado em um mapa detalhado do Estado, com municípios e áreas administrativas, que destaca as principais áreas afetadas com o fim da colheita manual da cana. Dos 645 municípios paulistas, 482 perderão áreas de plantio de cana-de-açúcar. 

– Claro que essa distribuição não é homogênea, há municípios que terão uma área muito pequena afetada e outros que ficarão com muita terra a ser destinada a outras culturas – detalha Miranda.
 
Dos municípios afetados, 110 possuem mais de mil hectares de cana em aclives acentuados. Em números absolutos, o que perderá mais áreas será Piracicaba, na região de Campinas, que soma 8,6 mil hectares de cana plantada em morros. Porém, o impacto também diz respeito ao que esse número representa em relação ao total de cana produzida no local.
 
No caso de Piracicaba, por exemplo, a parcela afetada equivale a pouco mais de 17% do total da cultura plantada no município. Na vizinha São Pedro, por sua vez, os 3,5 mil hectares que deverão ter outra destinação respondem por quase 30% da produção canavieira de lá. Por essa razão, o estudo separou os municípios que apresentam mais de 20% da cultura de cana-de-açúcar em áreas declivosas acentuadas e cruzou essa relação com a lista daqueles que perderiam grandes áreas da cultura em números absolutos. Quatro cidades figuraram nas duas listas: os municípios de São Manuel, Descalvado, Santa Rita do Passa Quatro e São Pedro são os mais afetados nessas condições. 

– Trata-se de um forte impacto na economia agrícola desses municípios que precisa ser trabalhado com antecedência – analisa Miranda.
 
Diversificação de culturas
 
As áreas deixadas pelos canaviais em morros acentuados deverão ser ocupadas por culturas diferentes, respeitando-se a vocação agropecuária de cada região, segundo Miranda. Na região de Franca e no leste do Estado, próximo à divisa com Minas Gerais, o café e a pecuária intensiva bovina são fortes candidatos a ocupar essas áreas. Já os municípios de Araraquara e São Carlos possuem vocação para a citricultura e os canaviais em aclives da região de Sorocaba têm grandes chances de se transformarem em florestas de eucaliptos, com o estímulo da indústria de papel e celulose instalada próximo. 

– São apenas conjecturas baseadas nas vocações regionais, o importante é perceber que a agricultura paulista tenderá à diversificação – argumenta o pesquisador.