Estima-se que um quarto de todos os alimentos que entram na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) não são comercializados. Destes, 154 toneladas vão para o Banco de Alimentos e outras quatro mil para o aterro. O resto não aparece em nenhum dado oficial.
São frutas, verduras e legumes que passaram do ponto, estão maduros demais, machucados, estragados. Os dados da própria Companhia apontam que mensalmente sobram 78 mil toneladas de frutas e legumes que poderiam ter como destino o Banco de Alimentos, que funciona dentro da Ceagesp desde 2003. Mas o que chega nele é quase nada comparado ao volume não comercializado: apenas 154 toneladas por mês.
– Nós atendemos mais de 160 instituições, todas sem fins lucrativos e que dependem dos nossos alimentos pra complementar a refeição de toda população beneficiada – aponta a nutricionista responsável pelo Banco de Alimentos, Alessandra Matias de Oliveira.
De acordo com Alessandra, dos três mil permissionários da Ceagesp, apenas 36 doam suas sobras não comercializadas para o Banco de Alimentos. O restante, oficialmente, vai para o lixo. Mas não preciso muito tempo dentro da Ceagesp para descobrir que há outro destino: um mercado paralelo à primeira vista difícil de ser identificado. Dentro dos muros do principal entreposto da Companhia se desenrola uma negociação diária envolvendo bancas, funcionários e ambulantes que desviam parte da produção que chega do campo.
A circulação de ambulantes dentro da Ceagesp é proibida. Mas, durante um mês, circulamos por dentro do entreposto com câmeras escondidas e, todos os dias, vimos dezenas deles coletando alimentos das caçambas de descarte e comercializando no estacionamento e nas ruas do entreposto.
De acordo com os ambulantes, além da coleta de alimentos descartados, muitos possuem acordos informais com os funcionários das bancas, que separam do que deveria ser descartado aqueles alimentos ainda em condições de consumo, colocam em caixas separadas e vendem para os ambulantes por preços irrisórios. Uma caixa de tomate nessas condições, por exemplo, sai da banca por R$ 1 e é vendida por R$ 8 pelos ambulantes.
Todo este comércio é realizado em frente ao Departamento de Entreposto da Capital (Depec), responsável por administrar toda estrutura da Companhia e, inclusive, pela fiscalização. Mas, apesar de nossa equipe ter flagrado muitos ambulantes irregulares dentro da Ceagesp, o gerete do Depec, Edson Ignácio Marin da Silva, diz desconhecer o comércio ilegal.
– Estou surpreso com esta informação de que tem um mercado paralelo acontecendo neste aspecto. Esta comercialização que você me disse que viu o cara pegando a mercadoria, comprou de alguém mais barato e acabou vendendo, isto não é permitido. Se a fiscalização pegar, apreende. A gente destrói a mercadoria porque em alguns casos ela já tem até o valor nutritivo abaixo do recomendado, então a gente faz a destruição.
* Colaborou André Dórea