As estimativas divulgadas até agora, contudo, não apontam para uma direção.
– Se eu perguntar para 10 produtores sobre intenção de plantio, serão 10 respostas diferentes. As projeções climáticas indicam chuvas estendidas, o que pode significar que teremos gente que vai plantar fora da janela e correr risco. Ainda assim, vai haver redução de área – diz Nery Ribas, diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a disposição de produtores em semear milho segunda safra se mantém mesmo com o pouco espaço para uma reação sustentada dos preços do milho no médio prazo. Os estoques globais são amplos – 192,2 milhões de toneladas ao fim de 2014/2015, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) – e no Brasil podem alcançar 19 milhões de toneladas ao término da temporada nacional 2014/2015.
O encurtamento da janela ideal de cultivo para a segunda safra também pode ter impacto menor que o inicialmente esperado sobre a decisão do produtor. O atraso na instalação das lavouras de soja, em virtude da escassez de chuvas em outubro, deve fazer com que a colheita avance sobre o período mais indicado de plantio de milho segunda safra, que se encerra na última semana de fevereiro no Centro-Oeste.
Naquele mês de outubro a preocupação com a soja fez com que crescessem as apostas de grande redução de área de milho. O cenário, contudo, se inverteu. Além de cotações mais atrativas para o grão, culturas concorrentes como trigo e algodão continuam sendo negociadas em níveis ainda menos remuneradores.
O preço médio do milho em novembro com base o indicador Cepea/Esalq, cuja referência é a região de Campinas (SP), foi de R$ 27,65 a saca de 60 quilos, 6,38% acima dos R$ 25,99/saca apurados em igual período de 2013. No acumulado de novembro, a valorização do dólar foi de 2,43%, para R$ 2,5670, e no último mês do ano a moeda era negociada perto de R$ 2,70, patamar projetado pelo mercado financeiro para 2015. Também nas últimas semanas, o indicador Cepea/Esalq seguia cotado próximo dos R$ 28/saca.
O economista da Agrometrika, Felipe Prince, pondera que nos últimos anos a propagada redução de área do milho acabou não se confirmando no Brasil, onde a cultura é semeada em duas safras – no verão tende a ceder espaço para a soja, mas no inverno avança sobre outras culturas de menor liquidez. Segundo o analista, a sinalização de redução de plantio no início de cada safra tem como intuito direcionar o mercado para reagir antecipadamente.
– Existe uma questão política, de defesa de preços – afirmou.
Para ele, em 2014/2015 isso voltará a ocorrer e a queda será menos abrupta do que se afirmou inicialmente. A consultoria ainda não divulgou sua estimativa para a safrinha 2014/2015.
Em Mato Grosso, maior produtor nacional de safrinha, a estimativa do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) é de uma redução de 12,18% na área cultivada, para 2,8 milhões de hectares. Se confirmada e o clima for favorável, os mato-grossenses poderão colher 14,5 milhões de toneladas (-17,6%).
Para o superintendente do Imea, Otávio Celidonio, mesmo que a recente alta de preços do cereal leve produtores a aumentar a área semeada com milho, uma parcela ainda maior da lavoura seria instalada fora do período ideal, com risco de queda na produtividade.
– Chegamos ao cálculo de área baseados em potencial de plantio. A área pode mudar, mas se ela aumentar a produtividade tende a cair – disse.
No Paraná, a área deve cair apenas 1%, para 1,871 milhão de hectares, conforme a primeira estimativa de safra do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria de Agricultura do Estado. A produtividade, estimada em 5.507 quilos por hectare, é 4% menor que a obtida na safra 2013/2014, e a colheita deve somar 9,918 milhões de toneladas, 5% abaixo do recorde de 10,43 milhões de toneladas colhidas em 2013/2014. A consultoria AgRural estima que a área plantada com milho segunda safra será 6,2% menor no Centro-Sul do país, de 7,69 milhões de hectares.
As consultorias Céleres e FCStone trabalham com números divergentes. A Céleres prevê redução de área de 2,3% na safra verão, para 6,64 milhões de hectares, mas produção 6,1% superior, de 36,1 milhões de toneladas. Para a safrinha, a estimativa é de acréscimo de 1% na área semeada, para 8,54 milhões de hectares, e produção de 49,1 milhões de toneladas. A produção total, conforme a Céleres, deve alcançar 85,16 milhões de toneladas, 8,6% mais que a colheita de 2013/2014.
De outro lado, a FCStone calcula que a área destinada a milho verão some 6,08 milhões de hectares, queda de 6,74% ante 2013/2014, e a produção pode alcançar 29,99 milhões de toneladas, recuo de 5,14%. Para a safrinha, a área deve cair de 8,9 milhões de hectares para 8,65 milhões de hectares. A produção de segunda safra está estimada em 44,27 milhões de toneladas, e a colheita total em 74,27 milhões de toneladas, portanto 4,89% menor que as 78,09 milhões de toneladas colhidas em 2013/2014.
A estimativa oficial da Conab é de produção de 29,28 milhões de toneladas na primeira safra 2014/15, 7,5% menos que a colheita da safra 2013/2014, de 31,65 milhões de t. A estatal ainda não divulgou previsão para a segunda safra brasileira, mas considera que as exportações possam bater 20 milhões de toneladas e os estoques de passagem devam somar 15,45 milhões de toneladas ao fim do ano comercial 2013/2014, em 31 de janeiro de 2015, e 19,45 milhões de toneladas em 2014/2015.
Comercialização antecipada estimula plantio
Se a janela mais estreita de plantio é um desestímulo à produção, a possibilidade de negociar a safra antecipadamente dá ânimo a produtores, que travam a venda considerando os custos da lavoura. Na segunda semana de dezembro, o Imea informou que 11,5% da produção estava comprometida de forma antecipada a preço médio de R$ 15,06 a saca. Na safra 2013/14, porcentual semelhante só foi alcançado em março, quando o plantio começava. Em dezembro de 2013, não havia sequer indicação de compra e a paridade de exportação estava em R$ 11/saca em Mato Grosso.
– Produtor tem essa visão de que os preços atuais do milho cobrem custos e garantem o pagamento de insumos. Dados de estoques não sugerem elevação de preços em 2015 – afirmou o superintendente do Imea, Otávio Celidonio.
Para Aline Ferro, analista de agronegócio da Céleres, contudo, o cenário de cotações firmes tem vida curta, devendo durar até o início da colheita da safra de verão. Ela lembra que a comercialização da safrinha 2013/2014 foi lenta, e os armazéns estão cheios de milho em boa parte das regiões produtoras, o que deve motivar novas vendas em breve.
– Acreditamos que os preços percam força com a entrada da safra da América do Sul – completou.