Endividamento, aumento no custo de produção, redução de área e queda na produtividade provocada pela estiagem. Esse foi o cenário do setor sucroenergético em 2014. A dívida do setor é de R$ 77 bilhões, 10% a mais do que o faturamento estimado para essa safra. Dados da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) apontam que pelo menos 30 das 375 usinas em operação devem paralisar as atividades na próxima safra. O setor vive o pior cenário da história.
– A a gente não sabe o que fazer. O não sobe há quatro anos, os insumos sobem todo ano, o carreto sobe todo ano. A gente não tem uma luz no fim do túnel – diz o produtor rural Celso Galvão.
Além das condições desfavoráveis do mercado, a estiagem prolongada trouxe queda de 30 milhões de toneladas nas lavouras da região Centro-Sul. A redução foi de mais de R$ 3 bilhões no faturamento e o aumento do custo de produção foi superior à média de produtividade de ATR por tonelada.
Com o cenário adverso, muitos produtores reduziram a produção. No estado de São Paulo, a área plantada diminuiu 0,4% em comparação com 2013, fato que não acontecia desde 2008.
– O preço já vem defasado de 2011, com recuo de mais de 20%. Agora, com essa falta de chuva, nós tivemos mais 33% de queda na produção nos 33 municípios que a cooperativa de Capivari abrange – relata o produtor Antônio Carlos.
Até nos estados em que o clima ajudou, o cenário continua negativo. Em Alagoas, 40% do parque industriam está em recuperação judicial.
A situação ruim se reflete em toda a cadeia produtiva do setor. Segundo dados do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise), a receita das empresas nesse ano diminuiu 50%. além disso, de janeiro a outubro foram realizadas cerca de 2.500 demissões no setor.
A tendência para os próximos anos é que as indústrias de base diversifiquem a produção para diminuir a dependência do setor sucroenergético. A necessidade de se obter uma matriz energética limpa faz com que a biomassa seja um dos principais alvos dos empresários.
– Isso custa caro. Quando você muda seu segmento, precisa mudar toda a mão de obra e ter nova tecnologia. Nessa época de crise, o pessoal não tem muita condição de fazer isso, mas é uma tendência, sim – aponta o presidente do Ceise, Antônio Eduardo Filho.
Para 2015, o setor espera que as políticas do governo federal incentivem a retomada de crescimento. Entre as medidas está o aumento na mistura de etanol a gasolina de 25% para 27,5%. De acordo com a presidente da Unica, Elizabeth Farina, no dia 02 de fevereiro a entidade terá uma reunião com o ministro da Casa Civil para tratar deste aumento.
– A gente espera o aumento seja anunciado até antes do dia 2, porque as usinas precisam planejar o destinado da safra. A Agência Nacional de Petróleo exige estoques nos distribuidores que precisam ser equacionados com uma mistura maior. Existe uma série de providência que precisam ser tomadas e isto exige um anúncio o mais rápido possível – aponta Farina.