A colheita de algumas lavouras de soja precoce já começou em pontos de Mato Grosso e do Paraná, mas os trabalhos deverão ser mais intensos na segunda metade de janeiro e em fevereiro.
Os valores pedidos pelos produtores rurais para fechar a venda da soja que será colhida em breve têm ficado acima do que os compradores estão dispostos a pagar.
Em Goiás, por exemplo, esmagadoras têm oferecido R$ 55,50 por saca e tradings aceitam pagar R$ 56,50, mas os produtores fecham negócio apenas acima de R$ 60, disse Vitor Carettoni, chefe da mesa de agronegócio do escritório de investimentos Lifetime, de São Paulo.
– Nos últimos anos, se trabalhou nesse nível de preços [R$ 60 por saca], e com a escalada recente do dólar o produtor tem o sentimento de que o preço alcançará novamente esse patamar – disse ele.
Além disso, os produtores estão capitalizados por uma sequência de anos de alta rentabilidade e têm poder para endurecer as negociações.
Cotações
Desde novembro, os preços da soja na bolsa de Chicago giram em torno de US$ 10 por bushel, após tocarem US$ 9 em outubro, menor patamar em quatro anos e meio.
Por outro lado, a queda nas cotações internacionais foi parcialmente compensada pela alta de mais de 10% do dólar frente o real entre o início de outubro e 16 de dezembro, quando a moeda norte-americana atingiu sua maior cotação de fechamento em quase uma década, a R$ 2,7355.
A desvalorização da moeda brasileira torna mais rentáveis as exportações de commodities como a soja, com influência direta no mercado no interior do país. No entanto, o dólar já caiu 1,15% desde o pico de dezembro até a véspera.
– Com as recentes quedas [na cotação do dólar e no preço da soja em reais] os números entre vendedor e comprador ficaram distantes – disse um corretor de Maringá, no Paraná.
Vendedores na região têm pedido R$ 64 por saca, enquanto compradores oferecem de R$ 59 a R$ 60.
Portos
No porto de Paranaguá (PR), houve sinalização de compradores, mas ainda não houve registro de negócios realizados, disse o Cepea, centro de pesquisas ligado à Universidade de São Paulo. De acordo com relatório do órgão, os line-ups dos portos de Santos e Paranaguá não apontam navios previstos para chegar e embarcar soja por enquanto.
Enquanto produtores apostam numa recuperação de preços, na esteira do dólar valorizado, compradores confiam no efeito da chegada de uma safra recorde ao mercado para derrubar as cotações nas próximas semanas.
– O grosso mesmo [das negociações], ocorrerá com a entrada da safra – ressaltou Carettoni.
O clima perto do favorável tem ajudado o desenvolvimento das lavouras na maior parte do país nos últimos meses. O país caminha para uma colheita recorde de 95,92 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).