Colheita da soja é feita sob escolta policial no Paraguai

Pelo menos 15 pessoas ficaram feridas em confronto entre sem-terra e polícia na colônia de Santa LucíaA colheita da soja está sendo feita sob escolta policial no Paraguai. De acordo com fontes do Canal Rural, 40 propriedades obtiveram uma ordem judicial para receber proteção policial durante os trabalhos de colheita.

O motivo é um conflito com os carperos, como são chamados os sem-terra naquele país. A imprensa paraguaia relata que até 15 pessoas ficaram feridas, todos sem-terra. Pelo menos cinco estariam em estado grave, mas não foi possível confirmar esta informação até o momento. Até a tarde desta quarta, dia 14, ninguém havia sido preso.

De acordo com o jornal paraguaio Extra, o veículo do advogado que atende aos produtores, Rolando Cáceres Salvioni, foi alvejado pelos sem-terra, que teriam disparado também contra colheitadeiras. Outro jornal do país, Vanguardia, Milciades Brizuela, uma produtora de 61 anos que ocupa um dos imóveis desapropriados, inciou uma greve de fome 

O conflito acontece na colônia Santa Lucía, distrito de Ytakyry. Em março de 2014 o Instituto Nacional de Desarrollo Rural y de la Tierra (Indert) desapropriou cerca de três mil hectares neste distrito para assentar famílias vindas de Ñacunday, distrito que foi palco de violentos conflitos entre paraguaios e brasiguaios em 2012.

O assentamento dos carperos, de acordo com informações do Indert, começou no ano passado com a construção de uma agrovila de 400 casas, em cerca de 500 hectares. O objetivo é, a partir da estruturação da agrovila, fazer de Santa Lucía uma colônia modelo de pequenos produtores.

Mas, em dezembro, os proprietários conseguiram uma liminar da Justiça de Ytakyry revertendo a desapropriação. O Indert alega que a decisão da juíza Eresmilda Román é “duvidosa”, pois os documentos apresentados são considerados inválidos pelo governo.

O conflito desta semana é resultado desta disputa judicial. De acordo com as fontes ouvidas pelo Canal Rural, o governo paraguaio levou os carperos de Ñacunday para Santa Lucía sem se importar com o que aconteceria nem com paraguaios, nem com brasiguaios.

Nesta quarta, o presidente do Instituto Nacional de Desarrollo Rural y de la Tierra (Indert), Justo Cárdenas, lamentou a violência.

– Lamentamos muito e estamos empenhados em garantir a segurança das pessoas que residem lugar. Rechaçamos enfática e categoricamente a violência em todas as suas formas. Ao mesmo tempo, o governo ratifica o indiscutível respeito à propriedade privada – disse Cárdenas.

Os distritos de Ytakyry e Ñacunday estão no Departamento Alto Paraná, distante cerca de 100 quilômetros da fronteira com o Brasil, na altura de Guaíra (PR). Em Santa Lucía, a produção soja é estimada em 12 mil toneladas por ano. A região foi colonizada por produtores brasileiros há três décadas.