Segundo o braço tecnológico da entidade (Instituto Mato-grossense do Algodão – IMAmt), a captura de adultos em armadilhas instaladas nos sete Núcleos Regionais de produção “acendeu o sinal vermelho”.
– Devido à grande pressão do bicudo neste início de safra – época considerada de baixa infestação -, alertamos os produtores quanto à importância das ações iniciais de controle da praga. Se o controle e o monitoramento nos talhões não forem rigorosos e efetivos, neste primeiro momento, o produtor tem alto risco de ter o bicudo fora de controle, causando prejuízos severos às lavouras – afirma o entomologista Eduardo Barros, do IMAmt.
Responsável por dizimar lavouras de algodão de Paraná, São Paulo e de Estados do Nordeste nos anos 1990, o bicudo é monitorado por meio de armadilhas sob a responsabilidade dos assessores técnicos regionais (ATRs) e da equipe de pesquisadores do IMAmt. Mato Grosso corresponde a 60% da produção nacional de algodão em pluma. No último relatório, o grande número de besouros capturados chamou a atenção, principalmente nos Núcleos Regionais Sul (região da Serra da Petrovina), Centro Leste (região de Primavera do Leste) e Centro (região de Campo Verde), embora o problema se estenda aos Núcleos Regionais Noroeste (região de Sapezal), Médio Norte (região de Campo Novo do Parecis), Norte (região de Sorriso) e Centro Norte (região de Lucas do Rio Verde).
– Temos uma média acima de 10 B.A.S (bicudos por armadilha por semana) nos núcleos Sul, Centro e Centro Leste, sendo que o índice acima de 2 indivíduos por armadilha já coloca a lavoura em alerta vermelho – informou Renato Tachinardi, ATR do Núcleo Regional Centro e responsável pelo projeto de controle de bicudo do IMAmt.
Segundo Tachinardi, após uma queda de 58% na quantidade de bicudos capturada no Núcleo Regional Centro na safra 2013/2014 em relação à safra anterior (de um índice B.A.S de 2,07 bicudos por armadilha por semana para 1,21), houve um aumento preocupante na captura de bicudo no monitoramento em pré-safra 2014/2015. Foi registrado um índice B.A.S. de 9,59 na segunda semana de janeiro, o que corresponde a um aumento de 790%.
Medidas de controle
– O produtor de algodão deve ficar muito atento às lavouras e seguir rigorosamente as recomendações da pesquisa – diz o presidente Gustavo Piccoli, lembrando que o bicudo é chamado de “praga silenciosa”. Segundo o entomologista Walter Jorge dos Santos, que se aposentou do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e é considerado um dos maiores especialistas nessa praga, o besouro (o bicudo adulto) se alimenta do interior dos botões florais do algodão, inviabilizando-os; as fêmeas do inseto colocam seus ovos no interior dos botões florais e das maçãs.
– As larvas ficam escondidas, por isso o bicudo não é um alvo fácil e é chamado de praga silenciosa – explica o pesquisador, que fez várias palestras para produtores e técnicos de Mato Grosso em 2014, a convite do IMAmt.
Eduardo Barros, entomologista do IMAmt, lembra que, mesmo em locais com menor pressão inicial do bicudo, a atenção dos produtores e seus colaboradores deve ser mantida, devido ao difícil controle da praga e rápida explosão populacional.
– Em consequência da maior população residual de bicudos presente na entressafra – causada por destruição de soqueiras adiada e de baixa qualidade, e a grande sobra de plantas de algodão nos talhões, hoje presentes nas lavouras de soja -, a praga irá migrar e se instalar com maior agressividade nas primeiras lavouras já semeadas com algodoeiro – alerta Barros. Segundo ele, isso poderá colocar em risco toda a atividade de produção de algodão em pluma em Mato Grosso.
Para evitar que isso aconteça, a equipe do IMAmt recomenda aos produtores e técnicos a realização das seguintes ações:
• Antecipar o início da aplicação de bordadura;
• Antecipar a aplicação em bateria em B1 (Primeiro Botão Floral);
• Antecipar o monitoramento mais rígidos das lavouras;
• Treinar monitores novos com foco no bicudo;
• Eliminar fontes da praga em pátios de algodoeiras, beira de fardões, beira de carreadores, estradas, etc.;
• Fazer a revisão de pulverizadores e aplicação direcionada;
• Dar atenção a produtos, horários de aplicação, volume, gota, etc.;
• Fazer ajuste fino e deixar toda equipe da fazenda em atenção ao controle da praga.
– Segundo o pesquisador Walter Jorge dos Santos, o gargalo do algodão é a destruição mal feita dos restos culturais – uma etapa que deve ser realizada no período de vazio sanitário, encerrado em 1º de dezembro. Se o dever de casa não foi realizado a contento, temos agora que arregaçar as mangas e fazer um controle mais efetivo do bicudo neste início de safra para evitar a explosão da população do inseto mais adiante – conclui o presidente da Ampa e do IMAmt, Gustavo Piccoli.