Embora parte dos fatores que vêm pressionando a divisa norte-americana nos últimos dias tenha origem nos mercados externos, a deterioração dos fundamentos macroeconômicos brasileiros, dúvidas sobre o futuro da Petrobras e fatores técnicos garantiram que a pressão cambial fosse mais intensa aqui.
O dólar subiu 2,12%, a R$ 2,8364 na venda, maior nível desde 1º de novembro de 2004, quando fechou negociado a R$ 2,854. Na máxima da sessão, a divisa alcançou R$ 2,8398. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 1 bilhão de dólares.
– As moedas emergentes têm sofrido de maneira geral, mas o cenário da economia brasileira está muito deteriorado – resumiu o operador de câmbio da corretora Correparti João Paulo de Gracia Correa.
Segundo ele, a volatilidade recente do câmbio tende a provocar saída de capitais externos.
– Aquele estrangeiro que entrou aqui para ganhar juros quando o dólar estava a R$ 2,65 acabou perdendo dinheiro.
Nesta sessão, as preocupações com a fraqueza da economia da China, importante parceiro comercial do Brasil e referência para investidores em mercados emergentes, foram corroboradas por dados que mostraram que a inflação ao consumidor chinês atingiu em janeiro o menor nível em cinco anos.
O número alimentou o mau humor dos investidores internacionais, já afetado pelo temor de que o impasse entre a Grécia e seus credores force o país a sair da zona do euro, o que poderia enfraquecer ainda mais a economia global.
– Parece haver algum movimento na posição grega que ainda pode formar as bases para um acordo. Dito isso, os credores oficiais não parecem ter aliviado suas exigências em nada – escreveram analistas do Brown Brothers Harriman em relatório.
No front doméstico, as crescentes expectativas de estagnação econômica e inflação de mais de 7% em 2015 somavam-se às preocupações com o futuro da Petrobras, após a nomeação de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, para comandar a estatal.
Mais cedo, a Verde Asset Management, maior hedge fund do Brasil, divulgou relatório em que defende que a deterioração dos fundamentos macroeconômicos do Brasil ainda não se refletiu completamente no preço do câmbio, projetando mais valorização do dólar.
O mau humor com os fatores internos era corroborado ainda pelas crescentes dúvidas sobre a capacidade do governo de promover um ajuste fiscal significativo neste ano, em meio à crescente oposição às medidas que vêm sendo adotadas pela equipe econômica, encabeçada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
– O problema é que as expectativas de melhora na política econômica estão perdendo força. Se o apoio político deixar de existir, pode haver um downgrade (da classificação de risco soberano) à frente – disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
BC
Analistas ressaltaram que o avanço do dólar elevou a pressão para que o Banco Central esclareça se pretende permitir a pressão sobre a moeda ou se adotará medidas para limitar a volatilidade do câmbio.
– Mesmo no nosso cenário mais pessimista, estávamos considerando o dólar a R$ 2,72 agora em fevereiro – disse a economista da CM Capital Markets Jéssica Strasbourg, acrescentando que precisará recalcular suas projeções, que apontavam que a moeda norte-americana terminaria o ano a R$ 3,11.
O BC vem atuando diariamente no câmbio desde agosto de 2013 para oferecer proteção cambial. O atual molde do programa de atuações diárias está marcado para durar “pelo menos” até 31 de março, o que deve alimentar a incerteza do mercado nas próximas semanas sobre uma possível extensão da intervenção.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às rações diárias, vendendo a oferta total de até dois mil swaps cambiais, que equivalem à venda futura de dólares, pelas atuações diárias. Foram vendidos 600 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1,4 mil contratos para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 97,8 milhões.
O BC também vendeu a oferta integral de até 13 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em dois de março, equivalentes a US$ 10,438 bilhões. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 42% do lote total.
Bovespa
O principal índice da Bovespa fechou em queda nesta terça, pressionado principalmente pelas ações da mineradora Vale e da Petrobras, conforme permanecem incertezas sobre o balanço auditado e o rumo da petroleira após troca de comando.
O Ibovespa caiu 1,77%, a 48.510 pontos, após avançar 0,84% na máxima do dia. O volume financeiro do pregão alcançou R$ 6,2 bilhões.