Eles reclamam que o setor produtivo também sofre com o aumento do preço do diesel, principal queixa dos caminhoneiros. O apoio do setor produtivo ajuda a explicar a força da mobilização nos dois Estados.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina são as duas unidades da federação com maior número de bloqueios em rodovias federais: são 41 ao todo, dentre os 59 existentes no país, segundo o mais recente levantamento da Polícia Rodoviária Federal.
Nesses dois Estados, a colheita de soja ainda é incipiente, enquanto a retirada do milho já está quase concluída em vários pontos, por isso, o bloqueio não prejudica tanto os trabalhos no campo como no Centro-Oeste, por exemplo. Lá, onde a colheita de soja está mais adiantada e o plantio de milho é realizado na sequência, produtores já relatam falta de diesel para operação de colheitadeiras e plantadeiras.
Sindicatos de produtores do Sul do país informaram que a greve está sendo apoiada desde que a passagem de caminhões que transportam animais e leite e soja e milho recém-colhidos para os armazéns não seja impedida. O principal ponto de confluência entre caminhoneiros e produtores é o valor do diesel.
– Estamos apoiando a manifestação principalmente por sermos contra o aumento do diesel. A primeira classe a sentir é a deles, a segunda é nossa – disse o presidente do Sindicato Rural de Cruz Alta (RS), Airton Becker.
– Mandei um tanque de 12 mil litros para a propriedade e custou R$ 29.850. Praticamente tem que vender um carro para comprar. O custo do diesel está onerando bastante a produção – competou.
Rodovias e pedágios
O presidente do Sindicato Rural de Palmeira das Missões (RS), Hamilton Guterres Jardim, disse que outra queixa comum entre os dois setores diz respeito às condições de rodovias e valores de pedágios.
– No Brasil, transportamos grande parte da produção em caminhões, alguns produtores têm caminhões, muitas vez pagam a mesma coisa que o transportador autônomo paga – afirmou Jardim.
O presidente do Sindicato Rural de São Miguel do Oeste (SC), Adair José Teixeira, citou, ainda, o custo da energia.
– Estamos trabalhando sempre no vermelho e agora mais, com o aumento da energia e do combustível. Aqui está todo mundo dentro da lei, ninguém está atrapalhando o trânsito. Vamos continuar apoiando até o governo abrir pelo menos um canal de comunicação – disse Teixeira, que produz milho, frangos e aves na região.
Conforme o produtor, já existe uma movimentação de caminhões partindo do Rio Grande do Sul rumo à Brasília para reforçar as reivindicações junto ao governo federal. E caminhoneiros que participam dos bloqueios em Santa Catarina se juntarão à mobilização.
Colheitas
Segundo sindicatos gaúchos e catarinenses, a colheita da safra de verão 2014/2015 não foi prejudicada até o momento por falta de diesel para maquinário agrícola.
– Produtores se preveniram fazendo estoque na propriedade para que a colheita não fosse prejudicada ou interrompida. Por enquanto, nas propriedades rurais da região não está faltando diesel – disse Jardim, de Palmeira das Missões.
Ele não descartou, entretanto, escassez do combustível caso a greve persista.
– Vamos torcer para que as negociações evoluam de forma que possamos comemorar um acordo contemplando ao menos parte das demandas e o abastecimento da população urbana e as nossas atividades não sejam prejudicados – afirmou.
Por enquanto, segundo os representantes, apenas a comercialização travou no Sul.
– Eu tenho milho vendido que não consigo carregar. Parei de colher porque não tem mais lugar para guardar. Mesmo assim, estou apoiando. Cada um tem sua parcela de sacrifício – destacou o presidente do sindicato de Cruz Alta.
Os representantes assinalaram, todavia, que o apoio aos caminhoneiros pode ser retirado caso o fluxo de cargas vivas ou leite seja interrompido.
– Enquanto produtores rurais, estamos avaliando dia a dia a situação – disse Becker.