Nas lavouras do Paraná, depois da soja e antes do trigo, é momento de aplicar o glifosato, herbicida que elimina as ervas daninhas. A palhada de um cultivo fica para a proteção do solo na cultura seguinte, sem a necessidade de revolver a terra, como indica a técnica do plantio direto, que beneficia o meio ambiente e melhora a produção.
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– Foi um ganho a gente conseguir fazer o produtor utilizar o plantio direto. A partir do momento em que começa a preparar a terra, você tem um custo mais alto, do preparo da terra, e uma perda da qualidade ambiental, com relação à erosão. E com a soja, com certeza, iria sobrar mais mato e ter uma concorrência maior de plantas daninhas com a soja, acarretando em diminuição da produção – explica o engenheiro agrônomo Rodrigo Ambrosio.
Com o desenvolvimento dos transgênicos, o glifosato passou a ser aplicado também como pós-emergente. Isso é possível com o uso de cultivares RR, que são resistentes ao herbicida. No Brasil, a soja RR representa mais de 90% da produção e o glifosato é o principal herbicida da cultura.
– O glifosato é um produto não seletivo de amplo espectro, e quando eu falo não seletivo é porque ele mata todas as plantas. Ele começou a ser utilizado no Brasil há cerca de 40 anos e era principalmente utilizado pra controlar plantas daninhas que já haviam emergido, por exemplo, no caso da soja, para fazer a dissecação, para fazer plantio direto. Posteriormente, a partir de 2005, ele começou a ser usado na soja em pós-emergência como um produto para controlar as plantas que nascem dentro da cultura da soja – conta o pesquisador da Embrapa Dionízio Gazziero.
O produtor rural Onivaldo Dante é um exemplo:
– Fazemos duas culturas por ano. Na dessecação de cada cultura, é usado o glifosato, e na cultura da soja é usado em pós-emergência também – relata.
Dante é um dos pioneiros no cultivo de soja na região de Londrina (PR).
– É um custo bom e resolve completamente ervas daninhas de grande porte, pega bem, e é muito bom trabalhar com o glifosato – garante o produtor.
O pedido da procuradoria pela proibição do uso do produto é baseado em estudos de órgãos internacionais que de que o herbicida seria cancerígeno, e também em relatos de que o produto teria causado 88 mortes de agricultores do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul no período de 2009 a 2013.
A Monsanto foi a empresa que desenvolveu o glifosato e, de acordo com a multinacional, o produto é seguro.
– O que eu posso te dizer é que eu estou surpreso. Em especial, pelo fato do glifosato ter sido recentemente reavaliado do ponto de vista toxicológico pela União Europeia, pelo Canadá, chegando a uma conclusão, demonstrando que não havia questionamento do ponto de vista toxicológico pra este produto, sendo que seus usos foram todos reconfirmados – afirma o diretor de Regulamentação da Monsanto, Geraldo Berger.
O glifosato está registrado em 160 países. Segundo Berger, não há nenhuma restrição de uso ao herbicida que esteja ligada à toxicologia ou ambiente.
Se o glifosato sair do mercado, a Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) estima prejuízos para a produção nacional.
– Se o glifosato eventualmente sair do uso nosso, for retirado, nós vamos ficar numa situação de extrema dificuldade. Vamos deixar de ser competitivos. Nós já temos problemas de logística, nós temos problemas de novas moléculas que não são liberadas, nós temos problema com o comércio exterior, que é muito pouco trabalhado em termos de abertura de mercado – aponta o diretor financeiro da Aprosoja/MT, Roger Rodrigues.
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