Na propriedade de Benedito Ferreira, a cerca não é só para dividir a propriedade dele da de outro dono. Ela tem uma função bem específica: no espaço de mil metros quadrados está uma das 16 nascentes do sítio de 12 hectares.
A propriedade é uma das 170 que fazem parte do projeto “Conservador de Águas”. A ideia é preservar as milhares de nascentes que abastecem as bacias hidrográficas de Minas Gerais e do estado de São Paulo. O agricultor acabou de aderir ao projeto e já recebe pela conservação.
– Depois de um ano e meio, eu resolvi entrar no projeto e desde que eu entrei, eu não tenho me arrependido, porque a quantidade de água das minhas nascentes “aumentaram” e a quantidade de animais silvestres também “aumentaram”. A gente tem uma diversidade de pássaros muito grande, inclusive alguns, que estavam em extinção, como o pássaro preto, a gente tem aqui, e só vieram pra cá depois que essas áreas foram isoladas – conta o produtor.
O projeto ajuda a preservar os mananciais de água que vão abastecer o rio Jaguari, que é um dos principais mananciais do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de boa parte dos moradores da capital paulista. Um projeto que ganhou destaque nacional e internacional por ajudar a diminuir a escassez hídrica, num dos pontos que mais precisa de água no país.
A ideia é simples: cercar a área das nascentes e plantar espécies nativas da Mata Atlântica. Como por exemplo: acácia, angico e paineira, árvores que crescem bastante, retém água e ajudam a conservar as nascentes.
Arlindo Cortez é gestor ambiental e ajudou a implementar essas e outras medidas, como as bacias de contenção de água da chuva, que geralmente ficam próximas às estradas vicinais do município.
– O objetivo dessa bacia é reter essa água de chuva aqui nesse local, no topo de morro. Ela está hoje fazendo a função de uma floresta, que poderia estar nesse lugar. Ela retendo essa água, vai evitar assoreamento dos córregos, erosão pra baixo dela, vai infiltrar essa água, manter esse nível da nascente médio, não vai diminuir tanto na época de estiagem e nem vamos ter enchente na época de chuva – explica Cortez.
Outro trabalho desenvolvido na zona rural da cidade busca recuperar antigas áreas de pastagem. Os técnicos da Secretaria de Meio Ambiente trabalham na recuperação das matas ciliares e de topo de morro. Primeiro, o local é roçado, depois eles fazem as covas e aí vão plantando pequenas mudas.
– Temos várias espécies, temos a paineira, que a folha dela é igual a da mandioca. Temos o tamboril, o ipê roxo, fica bonito, dá bastante sombra. Isso vai virar uma selva e me sinto bem em poder ajudar a natureza – conta o auxiliar de plantio da Secretaria Valmir Martins dos Santos.
Cada produtor rural recebe R$ 235 por hectare recuperado. Um pagamento por serviços ambientais que incentiva quem recupera e protege áreas próximas a nascentes e cursos d’água. As fontes de recursos são a cobrança pelo uso da água, convênios com entidades públicas e privadas e o planejamento estratégico dos gestores do município. Com isso, já houve a implantação de microcorredores ecológicos, redução da poluição e diminuição dos processos erosivos.
Através do reflorestamento de matas ciliares e topos de morro, os técnicos do projeto conseguiram um feito que poucos municípios brasileiros alcançaram: aumentar a cobertura da área florestal da região. Em 2007, 20% do total da área de Extrema eram cobertos por Mata Atlântica. Em 2015, esse total subiu pra 24%.
– A proposta é chegar a 2025 com 35% da cobertura florestal nativa. Nosso objetivo é adequar essas áreas para a produção de água nos topos de morros e Áreas de Preservação Permanente (APPs) – afirma o secretário de Meio Ambiente de Extrema, Paulo Henrique Pereira.
Por conta disso, os gestores do projeto já receberam inúmeros prêmios nacionais e internacionais. São plantadas, em média, 700 mudas por dia e 7,3 mil hectares foram recuperados.
– Entender que a propriedade rural presta um serviço ambiental pra toda a sociedade. A água produzida dentro de uma propriedade rural, beneficia a ela e a toda a sociedade que compõe a bacia hidrográfica – reforça o secretário.