Os irmãos Silas e Olímpio Mendes são agricultores familiares e acessam recursos do Pronaf há duas décadas. Os R$ 28,9 bilhões que vão ser disponibilizados na safra 2015/2016 para financiar o setor não animam a dupla. Os juros que podem chegar até 5,5% ao ano estão entre os motivos, mas não é só isso.
Uma das principais críticas dos pequenos agricultores ao Plano é a burocracia e a grande lista de garantias que os bancos exigem no momento de conceder um financiamento. Segundo eles, no campo, a realidade é bem mais difícil do que a imagem passada pelo governo.
Os dois têm posse de terras de cerca de dois hectares cada, no Distrito Federal, e ainda assim enfrentam problemas. Silas, por exemplo, desistiu de tentar um financiamento para investir no negócio.
– Há dois anos, eu tentei comprar uma caminhonete com esse programa todinho do governo, não consegui, dei entrada em vários bancos, não consegui. Tive que financiar particular, nas financeiras, o que é muito difícil, os juros são muito altos, né? Aí estou pagando aí, sou produtor e não tenho um carro pra trabalhar – reclama José Silas Mendes.
Já Olímpio, o outro irmão, lamenta passar por constrangimentos toda vez que precisa conseguir um avalista. Segundo ele, essa é uma das exigências dos bancos para acessar o crédito do Pronaf.
– É muita dificuldade, porque a gente fica procurando um e outro, né. Às vezes tem um parente que serve pra ser avalista pra gente, mas a gente fica com vergonha de chegar nele e dizer: “ô, você quer me avalizar, aí?”. Aí as coisas dele ficam bloqueadas lá até eu pagar. E seu eu não pagar? Ele tem que pagar pra mim, né. Então, o cara fica com medo – conta Olímpio.
Questionado sobre a burocracia, reclamação recorrente dos produtores na safra 2014/2015, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, responsável pela apresentação do Plano Safra, amenizou a situação.
– É claro que nós temos desafios, temos e vamos sempre aperfeiçoar, mas é importante vermos esse aspecto… Os recursos foram todos disponibilizados. Eles chegaram efetivamente até as agricultoras e agricultores familiares – afirmou o ministro.
A assistência técnica também é apontada como um problema. Os dois agricultores, por exemplo, não sabem sequer os passos que precisam seguir para fazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Na safra 2015/2016 vão ser disponibilizados R$ 236 milhões para assistência técnica e extensão rural e o CAR vai ser prioridade, segundo Ananias. Mesmo assim, o setor produtivo está preocupado.
– A pergunta é: se pra todas essas políticas que foram anunciadas a gente terá, efetivamente, condição de ter uma assistência técnica gratuita e de qualidade para o conjunto dos agricultores familiares – levanta Marcos Rochinski, coordenador geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf).