A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, anunciou há pouco que os Estados Unidos liberaram a importação de carne in natura de 12 estados e o Distrito Federal do Brasil, encerrando uma restrição praticada há 15 anos. A medida favorece 95% da agroindústria exportadora brasileira.
Agora, caberá aos estados brasileiros se habilitarem para a venda de carne in natura ao mercado norte americano. A autorização é válida para Tocantins, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe e Distrito Federal.
Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, a regra final para importação já está publicada no site do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e deve sair no diário oficial americano em breve.
– Ainda tem outro processo, que é a demonstração de equivalência dos sistemas de inspeção brasileiro e americano. O Mapa também está conduzindo essa discussão, que deve durar mais dois meses. Estamos esperando os primeiros embarques para o final de agosto e começo de setembro.
Sampaio diz que a abertura deste mercado é vantajosa para a produção brasileira, que tem um produto que interessa aos americanos: o dianteiro magro de bovino, usado na fabricação de hamburger.
– Isso resolve um problema do mercado brasileiro, que consome mais o traseiro que o dianteiro – diz Sampaio.
A expectativa da ministra é que em cinco anos o Brasil esteja exportando 100 mil toneladas de carne bovina in natura para os Estados Unidos.
– Temos que persistir obstinadamente em praticar uma defesa agropecuária de forma permanente. Vamos trabalhar para que o Brasil se situe entre os cinco países do mundo como referência agropecuária. A presidente Dilma Rousseff tem dado todo o apoio à defesa agropecuária e colocou seu peso político nas negociações com os Estados Unidos para alcançarmos essa posição – afirmou a ministra.
Há 15 anos, os Estados Unidos não importam carne in natura do Brasil e o desfecho da negociação nesta segunda, dia 29, é uma sinalização importante para a abertura de novos mercados. Os EUA são reconhecidos pela severa restrição ao ingresso de produtos no seu mercado doméstico.
Mais mercados
O presidente da Abiec, Antônio Camardelli, elogiou o esforço da ministra Kátia Abreu e da presidente Dilma Rousseff pela conclusão não só do acordo com os Estados Unidos, como do acordo que abriu o mercado da China recentemente.
– Primeiro é preciso parabenizar a ministra e a presidente pelo peso político que colocaram em cima das decisões técnicas desses dois processos.
Camardelli lembrou, também, que a demora de 15 para reabrir este mercado não deve ser creditada a falhas de gestão política por parte do Brasil.
– Não se pode negociar enquanto se tem constrangimento sanitário. Tivemos o caso de aftosa de 2001, depois o de 2005, isso tudo parou as negociações.
O presidente da Abiec também vê os embarques para os Estados Unidos como uma porta aberta para o Brasil começar a vender também para México e Canadá, além dos países da América Central. Como não possuem um serviço sanitário especializado, países como a Jamaica utilizam a lista americana para dar acesso aos seus mercados.
De acordo com Camardelli, há uma reunião marcada para o dia 2 de julho que deve acrescentar mais nove plantas frigoríficas às oito já autorizadas a exportar para a China.
Repercussão
O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), José João Stival, confirmou que a abertura de mercado beneficia muito o Brasil:
– A pecuária brasileira e toda a cadeia produtiva da pecuária de corte. Além dos ganhos financeiros, sem dúvida o processo de abertura de outros novos mercados será mais rápido. Sem dúvida, ganharemos o mercado asiático que ainda não temos. E também, isso nos deixará muito mais competitivos.
O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Claudio Paranhos, também afirmou que a abertura do mercado dos Estados Unidos à carne bovina in natura é selo de qualidade para o produto brasileiro.
– A notícia vai nos ajudar na conquista de novos mercados, como Coreia, Japão e México. Há também toda a Ásia e até a Europa, que já estava olhando diferente o Brasil quando aguardávamos ainda a decisão do mercado – afirmou.
Paranhos diz que o volume previsto de 100 mil toneladas por ano é relevante, mas o mais importante é a chancela que o país terá nas negociações com outros mercados. Para o executivo, o segundo passo é conseguir o aval dos Estados Unidos ao material genético nacional.
Nesta terça, dia 30, o presidente da ABCZ se reunirá em Brasília (DF) com representantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para iniciar a construção de uma estratégia para vender genética ao mercado norte-americano.
– Precisamos saber direitinho quais são os pontos que precisam ser ajustados entre os dois países, tanto em aspectos sanitários, quanto comerciais – ressaltou.
De acordo com o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), José João Bernardes, a qualidade da carne mato-grossense deve ser compatível as exigências do mercado americano. Conforme ele, a disponibilidade de um novo comprador oferece maior tranquilidade para que as indústrias de Mato Grosso na negociação do rebanho.
– Com isso, o produtor pode se beneficiar com os preços praticados – pontua.