Um estudo recém divulgado revela que a queda do consumo de suco de laranja se acentuou nos principais mercados em 2014. Entre as razões estão a mudança no hábito da população e a concorrência com outras bebidas. Nos Estados Unidos, o consumo encolheu 6% no último ano. O Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing Estratégia – Markestrat divulgou ainda que, em uma década, a queda é de mais de 30%.
– O suco de laranja está muito posicionado no café da manhã. Com a mudança de hábito e as pessoas tomando menos café da manhã em família, o produto acaba sofrendo, como os cereais, por exemplo, outra categoria que passa por problemas. O preço do suco de laranja na gôndola tem aumentado muito nos últimos anos e, para cada ponto percentual que ele aumenta na gôndola, praticamente dois pontos percentuais recuam no consumo, o que se chama de elasticidade, um fenômeno econômico muito conhecido – explica o diretor-executivo do CitrusBR, Ibiapaba Netto.
Nos 40 principais mercados mundiais, foram consumidos mais de 2,40 milhões de toneladas de suco concentrado e congelado em 2014, 3,2% a menos do que no ano anterior. O impacto no Brasil, no entanto, não é tão grande. Mesmo com a diminuição do consumo de suco, as exportações brasileiras aumentaram 9% no último ano/safra, principalmente devido à queda na produção de laranja nos Estados Unidos. O país ainda sofre com o greening.
Por causa da doença, a oferta da fruta caiu ainda mais do que o consumo nos EUA. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, o Brasil enviou mais de 240 mil toneladas para os americanos nos últimos 12 meses, o que ajuda a equilibrar os estoques brasileiros, que estavam abarrotados, e também melhora o preço.
– Em relação ao passado recente que tivemos e hoje, não há dúvidas que o momento é muito melhor. Agora, o que a gente precisa é encontrar saídas permanentes para que a gente não dependa de outros mercados, como a Flórida. O Brasil não pode depender dos problemas da Flórida, a gente precisa aumentar o consumo de suco de laranja no mundo – acrescenta Ibiapaba Netto.
De acordo com o analista de mercado Maurício Mendes, o momento é de ajuste entre oferta e demanda. Ele pontua, também, que outros países têm consumido mais suco de laranja.
– Poderá voltar a aumentar o consumo ou até cair menos nos próximos anos pela recuperação econômica dos principais países e pela entrada de países importantes no consumo de suco de laranja, principalmente a China, que consumia 40, 50 mil toneladas de suco e hoje já consome 140 mil toneladas de suco – destaca Mendes.
Uma das soluções para a indústria brasileira não ficar refém dos EUA é ganhar o mercado local. Apenas 5% da produção fica por aqui. Um dos entraves para o crescimento é o habito do brasileiro, que é exigente e está acostumado com o fruto espremido na hora. Além disso, o produto industrializado custa caro nos supermercados. O setor briga pela diminuição do imposto, já que é mais barato comprar o suco na Europa do que Brasil.
– É impensável que um litro de suco brasileiro custe R$ 8,00 no mercado brasileiro e R$ 4,00 na Europa, atravessando um oceano e ainda tendo mais um elo na cadeia do lado de lá que são os engarrafadores. Então, essa é uma distorção que a gente precisa cuidar. Além de um problema, é uma grande oportunidade para o nosso mercado.
– O brasileiro é exigente na qualidade do suco porque ele tem o melhor suco, aquele que sai da laranja naquele momento. Então, com qualidade e melhoria do preço, com certeza o brasileiro consumirá mais suco industrializado – conclui Mendes.
É impensável que um litro de suco brasileiro custe R$ 8,00 no mercado brasileiro e R$ 4,00 na Europa
Ibiapaba Netto, CitrusBR