– No ano retrasado, nós vendemos a laranja a R$ 13; neste ano, vendemos a R$ 10 – comenta o produtor Gilberto Ramos. O custo de produção ficou em torno de R$ 15 o quilo.
O presidente da Associação Brasileira de Citricultura (Associtrus), Flávio Viegas, afirma que muitos produtores não tiveram condições de fazer os tratos culturais, o que terá impacto muito forte na safra do próximo ano.
No interior paulista, a estiagem fez com que muitos citricultores desistissem da cultura. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), mais de quatro mil propriedades deixaram de produzir laranja em 2014.
A seca afetou o desenvolvimento das frutas, levando a quebras de até 40% na colheita. Como o cenário até novembro não se alterou muito, a perspectiva para a próxima safra não é das melhores.
Outro problema enfrentado em várias regiões produtoras do país foi o greening. A doença afetou 13% do pomar de João Fischer, em Limeira (SP).
– Não tem cura; tem que erradicar e fazer novo plantio, com tratamento intensivo com diversos inseticidas para que o vetor seja eliminado – afirma o produtor.
Dados da Secretaria de Agricultura paulista indicaram que a presença da doença no Estado, em 2013, era de 9,8%. Em 2014, já avançou para 14%.
– Nós, o Fundecitrus e as instituições de pesquisa, estamos nos mobilizando no sentido que o ponto chave para se conseguir manejar a doença e fazer o controle do vetor e da planta quando os índices são baixos – diz o pesquisador Juliano Ayres.
Com tantos problemas, a safra de 2015 já pode estar comprometida. De acordo com a União dos Produtores de Citrus (Unicitrus), a redução da produção no próximo ano pode ficar entre 15% e 25%.
– A sinalização é que, se houver preço a produção vai ser pequena porque houve muita queda de fruto. Ainda tem uma florada em curso, uma florada tardia que aconteceu só agora em novembro, dezembro. Então poderá haver uma recuperação da safra. Mas a perspectiva é que ainda não seja agora. A indústria ainda tem um estoque de suco, então o preço não deve ser remunerador e um ano com pouca produção. Duas vertentes ruins – afirma o presidente da Unicitrus, Roberto Jank.
Para as indústrias de suco de laranja, 2014 também foi um ano ruim. De acordo com dados da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), o ano foi marcado por redução nas exportações, com queda de 15% no volume embarcado e 18% em receita.
Para o diretor-executivo da associação, Ibiapaba de Oliveira Martins Neto, a cadeia de suco perdeu até novembro cerca de US$ 400 milhões, em relação ao mesmo período do ano passado.
– Infelizmente o setor continua decrescendo, por conta da concorrência com outras bebidas no mercado internacional. Isso é um problema para a cadeia porque, para você dividir renda, você precisa ter renda. Então nós estamos bastante preocupados como vai ser o desempenho em 2015 e, portanto no próximo ano-safra – revela Martins.
A Europa compra 70% do suco de laranja brasileiro. Mas, neste ano, houve redução de 21% nos embarques para o bloco. Para 2015, a indústria prepara uma campanha de marketing, feita pela Citrus BR em parceria com a Associação Europeia de Fruta, para reverter o quadro.
– Para fomentar o consumo de suco de laranja, os valores ainda estão sendo negociados entre as partes. Mas a gente acredita que esse é o caminho, investir com o reposicionamento do nosso produto para que a gente consiga esse objetivo tão difícil que é o aumento do consumo de suco de laranja no mercado internacional – afirma o diretor-executivo da Citrus BR.