Alemanha e Brasil prometem acordo fitossanitário

Kátia Abreu se reuniu com o ministro federal de Alimentação e Agricultura da Alemanha, Christian Schmidt

A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, se reuniu na manhã desta quinta, dia 20, durante mais de 1 hora com o ministro federal de Alimentação e Agricultura da Alemanha, Christian Schmidt. Os líderes trataram do esperado acordo entre o Mercosul e a União Europeia, e ministro alemão destacou que “o que é bom demora pra acontecer, mas esse acordo já está demorando demais”. Os representantes dos dois países decidiram que fecharão um acordo fitossanitário, ainda sem data para sair. 

O encontro mostrou que o Brasil quer a Alemanha como aliada para vencer resistências entre os demais integrantes da UE para o acordo com o Mercosul. A primeira frase da ministra para a imprensa, após a reunião, deu indicações desse movimento.

– A Alemanha é fundamental neste acordo. Ontem, [no jantar para a comitiva alemã] em todas as mesas, foi unânime a importância da Alemanha nesse acordo – disse.

Segundo a ministra, não existe forma de fazer uma proposta única só para Alemanha e Brasil, tem de ser acordo entre os dois blocos.

– Garantimos que a proposta está fechada e podemos marcar a data. A data de troca de ofertas é um ponto da maior relevância. Acho que isso pode ser fechado hoje no Planalto – afirmou.
 
Kátia Abreu relatou, ainda, que esse acordo entre os blocos, se aprovado, deve aumentar em 20% as exportações brasileiras para a União Europeia e o PIB da carne em 15%.

– Mesmo se não aumentasse as exportações, o que é impossível, teríamos o fim dos impostos – observou, acrescentanto que até 1º de janeiro “exportávamos frutas para Europa com taxa zero porque éramos considerados um país em desenvolvimento; agora, somos considerados desenvolvidos e perdemos esse benefício e pagamos 9% de taxa”.
 
A ministra garantiu que o Brasil está preparado para esse acordo e disse que o país está evoluindo em defesa agropecuária. Durante o encontro com o ministro alemão, ela solicitou a ele que reforçasse o acordo sanitário e fitossanitário que o Brasil ofereceu em Bruxelas para a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE). Segundo Kátia Abreu, em 10 e 11 de setembro, uma comissão do organismo internacional vem ao Brasil para se desenhar um acordo para harmonização de procedimentos.
 
– Ao longo de décadas, a Europa não quis discutir um acordo. Um acordo sanitário e fitossanitário que possa vir previamente (ao acordo entre Mercosul e União Europeia) vai desburocratizar nosso comércio. Quem sabe nosso acordo, procedendo bem, podemos partir para um pré-listing – ponderou, afirmando que “fluxo de comércio nunca é negativo, sempre é positivo. Às vezes alguns perdem no começo, mas depois todos ganham”.

Do encontro ficou acertado ainda que os dois países vão avançar na cooperação em pesquisa, através da Embrapa, e que vai ser encaminhada a parceria com o Instituto Friedrich-Loeffler, o único laboratório do mundo na avaliação de exames sobre o mormo em equinos.

– Nós pedimos duas coisas, uma cooperação pra que os nossos laboratórios do Brasil possam receber e também serem laboratórios de referência, e que eles priorizassem os dois mil exames que estamos mandando pra Alemanha. A primeira bateria de dois mil exames já foi feita, mas são obrigatórias mais duas baterias por conta das Olimpíadas. A resposta foi imediata de que será agilizado – afirmou Kátia Abreu.

Lista pré-autorizada

Kátia Abreu disse também que se conseguisse emplacar um acordo de pré-listing com os europeus, as prioridades seriam carnes, frutas, suco de laranja e café. Em compensação, haveria algumas restrições. Os segmentos de lácteos, vinho e cacau precisariam de mais tempo para se adaptar a entrada desses produtos no Brasil.
 
Segundo Kátia Abreu, o ministro alemão disse que se for fechado um acordo de pré-listing, teria de ser global, para todos os integrantes da União Europeia.

– Respondi a ele que queremos a mesma coisa, que quando a OIE reconhecer áreas livres de aftosa, que toda a Europa reconheça. Dei os exemplos de Distrito Federal, Rondônia e Tocantins que lutam há 10 anos por esse reconhecimento – relatou.
 
Entre as restrições que talvez os europeus imponham para um pré-listing estariam o açúcar e suínos. Para a ministra, os alemães deixaram a impressão de que um acordo entre o Mercosul e União Europeia é inadiável.

 – Ele usou a expressão de que tudo que é muito bom demora um pouco, mas que esse acordo está demorando demais – disse.

Visita

A Alemanha pode investir em infraestrutura e energia no Brasil. O convite foi feito pela presidente Dilma Rousseff durante visita da chanceler Angela Merkel, nesta quinta, dia 20. Aumento das exportações, inclusive do agronegócio, e intenção de acelerar as negociações sobre o acordo bilateral Mercosul-União Europeia também estiveram na pauta. Já a ministra da Agricultura pediu apoio para um acordo sanitário entre os dois países e agilidade na avaliação de exames sobre o mormo.

Depois de uma manhã de reuniões no Palácio do Planalto, Dilma Rousseff e Angela Merkel destacaram a intenção dos dois países de ampliar a relação comercial. Atualmente, a Alemanha é o quarto maior parceiro do Brasil – em 2014, a balança somou US$ 20 bilhões.

– A chanceler Merkel e eu coincidimos na importância de ampliar o comércio bilateral, bem como em diversificá-lo, incrementando em bens de maior valor agregado. Ressaltei as oportunidades para investimentos alemães no Brasil, especialmente em infraestrutura e energia elétrica – disse a presidente.

A presidente Dilma convidou empresas alemãs para participar das licitações da segunda etapa do Plano de Investimento em Logística e do recém-lançado Plano de Investimento em Energia Elétrica, a fim de aumentar o número de organizações que atuam no país, hoje são 1,6 mil. Angela Merkel citou que a maior parte das trocas comerciais são referentes à agricultura, como adubos, insumos e soja. A chanceler afirmou que o Brasil é a liderança do Mercosul, e que a Alemanha vai se empenhar na aceleração do acordo comercial do bloco econômico com a UE, com a troca de propostas ainda neste ano. 

Além de negociações bilaterais, a pauta envolve também discussões sobre importantes temas internacionais, como acordos climáticos e a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).