O frango foi um dos ícones do plano. Na época, um quilo custava, em média, R$ 1. A propaganda, bastante utilizada pelo governo, mostrava que até as classes com renda mais baixa começavam a ter acesso a produtos básicos.
? O frango foi considerado como a musa do real, a vedete do real. E essa propaganda foi feita pelo próprio governo para demonstrar a população que o plano estava funcionando. Então, o governo diz: o Pano Real está funcionando, a população está comendo carne e hoje pode consumir um quilo de carne de frango a R$ 1. Esse valor se manteve por todo ano de 1994 praticamente ? explica o presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA), Ariel Mendes.
O executivo também lembra o quanto o consumo cresceu com o real neste período de 15 anos, subindo de 19 quilos por habitante ano para 39 quilos.
Outro produto que se destacou no início do Plano Real foi o pão francês. No dia 1º de julho de 1994, o cliente entraria na padaria e com apenas uma nota de R$ 1 conseguiria levar até 10 pães para a casa.
A história mudou bastante depois de 15 anos. Além de a nota ter virado uma raridade, já que o Banco Central deixou de produzir por durar apenas um ano, a cena neste dia 1º de julho de 2009 é outra. Com a moeda de R$ 1, o consumidor consegue levar no máximo três pães. Seriam sete unidades a menos do que há 15 anos. Mesmo assim, a forte alta do preço do pão francês é menor do que a inflação no período.
? O real de hoje não pode ser comparado com o real daquela época, pois, segundo dados, a inflação subiu 244% nesses últimos 15 anos e o reajuste do pão subiu 205% aproximadamente. Isso quer dizer que há uma defasagem muito grande ainda entre a inflação acumulada durante esses anos e o preço final do pão. Eu diria que se compararmos o real daquela época com o real de agora, atualmente o consumidor acaba comprando mais pão para poder levar para casa ? defende o presidente do Sindicato da Indústria de Panificação de São Paulo, Antero Pereira.
A população lembra como era difícil e complicada a época antes do Plano Real.
? Corrida de carne, consumo limitado por pessoa no supermercado. A inflação sempre foi muito prejudicial para todo mundo ? afirma o administrador de empresas Roberto Alvo.
? Naquela época era uma tristeza, estou bem lembrado que lá em casa a gente falava ‘corre depressa porque amanhã vai ser mais caro’. E isso era ia de boca em boca ? completa o aposentado Antônio Gomes.
O professor de economia da Unicamp Júlio Gomes explica que no período que antecedeu o plano real a alta da inflação era constante e assombrava os brasileiros. Chegava a 50% ao mês, enquanto atualmente é de 4,5% ao ano. Segundo ele, o real além de ajudar a conter a inflação, deu estabilidade a economia e fez a classe com menor poder aquisitivo consumir mais. Acima disso, ele destaca o quanto o agricultor contribuiu para o sucesso do plano.
? O homem do campo ajudou muito o Plano Real. Eu diria que sem o preço do alimento bastante em conta, com uma produtividade muito grande, que foi obtida nas lavouras, você não teria condições de ter o sucesso do nosso controle, do processo inflacionário ? lembra Gomes.
A estabilidade colaborou com os produtos agrícolas e os industrializados.
? Quem observa o que vem acontecendo nos últimos anos vai perceber que cada dia mais o produto industrializado brasileiro é mais competitivo não só em qualidade como também nos seus custos e a estabilidade da moeda contribuiu para isso ? diz o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ivan Ramalho.
Já para o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumo Honda, o Plano Real mudou o Brasil e o setor supermercadista acompanhou essas mudanças.
? E a partir de 94, nós fomos vendo o encaminhamento, a solução, você ter conseguido tirar a inflação do nosso dia a dia. Acho que é a parte mais importante, porque estabilizou o nosso processo e nós podemos ver uma superação. Os supermercados naquele período anterior eram financeiras na verdade e hoje não. Você tem aí um setor que cresceu, que se desenvolveu e isso não ocorre só com o setor supermercadista, mas com outros setores também ? conclui Honda.