Valtra: 2016 ainda será de dificuldade no crédito para máquinas

Empresa está otimista e diz que fechou agosto com número 30% maior que o previsto

Fonte: Divulgação/Valtra

A dificuldade na liberação de crédito, causada pela maior cautela dos agentes financeiros em um cenário de crise econômica, continuará presente em 2016 e terá impacto sobre o desempenho do setor de máquinas agrícolas, disse nesta terça, dia 1, o diretor comercial da Valtra, Paulo Beraldi. 

– Não acredito que haverá uma piora, mas ainda teremos dificuldades no crédito e isso se refletirá em faturamento – afirmou em entrevista coletiva na Expointer, realizada nesta semana em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre. 

O executivo aposta em estabilidade no mercado de tratores e colheitadeiras no ano que vem, em comparação com 2015. A retomada da trajetória de crescimento, segundo ele, deve ficar para 2017.

Esta percepção, no entanto, não mudou a intenção de investimento da marca, que pertence ao grupo AGCO. De acordo com o diretor de Marketing de Produto da AGCO América do Sul, Jak Toretta, apesar do quadro de retração, a Valtra manteve sua pretensão de investimento não só para 2015 como para os próximos anos. Os executivos citaram um projeto de R$ 10 milhões, em fase de finalização, de implantação de um laboratório de tecnologia na fábrica de Mogi das Cruzes (SP), além de investimentos em unidades em Ribeirão Preto (SP) e Santa Rosa (RS). 

– Acreditamos que isso (momento de crise) é passageiro. A agricultura é fundamental para a balança comercial – avaliou Beraldi.

Crédito

Para Beraldi, o crédito é hoje o grande problema do setor de máquinas agrícolas no Brasil e o principal responsável pelas fortes previsões de queda para o setor este ano. Segundo ele, a maior cautela dos agentes financeiros tem provocado um aumento considerável no tempo de liberação de financiamentos até o processo chegar ao BNDES. 

– O processo está entre 40% e 50% mais demorado do que no ano passado. Para se ter uma ideia, agora estamos conseguindo concretizar vendas feitas na Agrishow, que ocorreu em maio. Isso é muito tempo – disse.

De acordo com Beraldi, a situação é consequência de uma crise de confiabilidade que atinge todos os setores da economia e impacta diretamente a postura dos agentes financeiros. 

– O juro é importante. Claro que uma taxa de juros mais alta não é tão favorável, mas a dificuldade na liberação de crédito incomoda mais, porque mercado consumidor nós temos – afirmou.

De acordo com o executivo, a Valtra sofre bastante por um lado, porque o segmento sucroalcooleiro, que é um dos focos da marca, encontra uma certa dificuldade na obtenção de crédito por conta das dificuldades financeiras enfrentadas pelos produtores. Por outro lado, a empresa conta com a vantagem de ter um agente financeiro próprio, o AGCO Finance, que atualmente responde por 60% dos financiamentos atrelados a negócios da Valtra.

Beraldi lembra que, embora enfrente dificuldades, o agronegócio brasileiro ainda se mostra mais resistente à crise. A Valtra espera uma queda de 20% do mercado de tratores em 2015 e de 30% no de colheitadeiras. 

– Em colheitadeira a redução será maior, porque este é o último investimento feito pelo agricultor e, com a alta de custos do plantio e a retração da economia como um todo, tende a ser mais penalizado – disse.

As projeções da Valtra para o mercado brasileiro, mais otimistas do que a média do setor, se baseiam na percepção de que os produtores brasileiros seguirão investindo, acompanhando os bons resultados no campo. Ele também explicou que a Valtra está preparada para um ano de desaceleração, dado que fez os ajustes necessários no final de 2014.

O executivo também afirmou que a empresa já está se beneficiando da desvalorização do real para impulsionar as exportações. 

– Nosso trator estava muito caro para ser vendido para fora, em função dos custos altos. Hoje estamos mais competitivos. Paraguai, Venezuela e Colômbia têm comprado bastante – afirmou.

Diante deste cenário, ele defende a ideia de que a crise não será “tão traumática” como esperado por alguns agentes. 

– Na Valtra fechamos agosto com um número 30% maior do que prevíamos no início do mês. Nosso otimismo é pé no chão – pontuou.

Expointer

Os principais lançamentos da Valtra estão concentrados no segmento de tratores de alta potência. Além disso, a marca apresenta novidades nos segmentos de colheitadeiras e plantadeiras. Bernardi comentou que a expectativa de negócios da empresa no evento é positiva, em parte devido à demanda no Sul do Brasil, que está acima da verificada em outras regiões. 

– Nos dois primeiros dias de feira, tivemos mais pedidos de maquinário com relação aos mesmos dias do ano passado – contou.