Exportações aquecem preço de commodities no mercado interno

Escalada recente do dólar está elevando o preço interno da maioria dos itens produzidos pelo país

Fonte: Jecson Schmitt/Arquivo Pessoal

A escalada recente do dólar em relação ao real deu suporte aos preços domésticos de produtos agropecuários tradicionalmente exportados, conforme um levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgado nesta sexta, dia 25. De acordo com os pesquisadores, soja, milho, açúcar, algodão, carne suína e de frango são alguns dos itens que têm se valorizado no mercado interno em consequência do aquecimento das vendas para o exterior. 

Para a soja, em termos reais, as cotações do grão são as maiores desde dezembro de 2013, segundo o Cepea. Só neste mês, até o dia 24, o preço médio da soja no Paraná, conforme o indicador Cepea/Esalq subiu 9%. Os derivados acompanham as altas do grão. O farelo de soja  acumula alta de 11%, e o óleo de soja, de 8,4% no mesmo período. Quanto ao milho, mesmo com a colheita recorde no Brasil, os preços têm elevação expressiva desde agosto. Para a região de Campinas (SP), o indicador Esalq/BM&FBovespa acumula alta de 15,8% em setembro.

No caso do açúcar, o indicador Cepea/Esalq tem aumento expressivo de 12,3% na parcial de setembro, mesmo com a colheita em bom ritmo na região Centro-Sul. Quanto ao algodão, os preços seguem firmes no mercado interno, em linha com a paridade de exportação e apesar do fraco ritmo da atividade industrial brasileira. Em setembro, o indicador Cepea/Esalq com pagamento 8 dias, referente à pluma 41.4, posta em São Paulo, acumula ganho de 4%.

A reação da demanda interna por carne suína aliada às exportações crescentes tem elevado os preços do animal vivo e da carne. No mercado atacadista da Grande São Paulo, as carcaças especial e comum se valorizam 28% e 29,5% no acumulado de setembro. No mercado de frango, o movimento de alta dos preços se intensificou em meados deste mês, e a elevação já está próxima dos 20% tanto para o frango inteiro congelado quanto resfriado no atacado da Grande São Paulo. 

– Além do bom desempenho das exportações, a demanda interna pela carne de frango vem sendo favorecida pelos elevados valores da bovina e pelas recentes valorizações da suína – assinalou o Cepea. 

A carne bovina, apesar de também ter se tornado mais competitiva no mercado internacional, não tem apresentado aumentos de volume exportado, porque é tradicionalmente adquirida por países emergentes, que também estão tendo desvalorizações de suas moedas. 

Importações

Ainda de acordo com o Cepea, o dólar também puxa o preço do trigo. Mas, neste caso, o Brasil importa cerca de metade do que consome, e as compras externas a valores maiores têm causado reajustes dos preços ao produtor brasileiro mesmo neste momento em que está começando a colheita de uma safra que pode ser recorde. Na média de setembro, os valores pagos ao produtor do Paraná estão 12,5% superiores aos de setembro de 2014 e, no Rio Grande do Sul, 10% maiores. No mercado de lotes, na mesma comparação, a alta chega a 29% no Rio Grande do Sul, a 23% em São Paulo e a 28,8% no Paraná.

Os pesquisadores ressaltaram também a disparada do preço de insumos importados. 

– Importadores (distribuidores) de fertilizantes chegam a relatar que estão sem parâmetros de preços para o mercado nacional, tamanha a variação do câmbio – apontou o Cepea. 

O centro informou que, em agosto, o custo médio com fertilizantes e defensivos da soja em Mato Grosso aumentou 27% em Sorriso e Campos Novos do Parecis e 41% em Primavera do Leste ante agosto do ano passado. No Paraná, o encarecimento médio de adubos e defensivos foi de 22% em Londrina, 32% em Cascavel e 41% em Castro. 

– O impacto da desvalorização mais recente do real deve começar a ser sentido nas compras, principalmente de defensivos, que ainda precisam ser feitas para a temporada de verão.