Captação aumenta e preço ao produtor cai após seis meses de alta

Expectativa para os próximos meses é de novas quedas

Fonte: Pixabay/divulgação

Depois de seis meses de altas consecutivas, o preço do leite pago ao produtor registrou queda em todas as regiões que compõem a “média Brasil” (MG, PR, RS, SC, SP, GO e BA), de acordo com pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
 
O valor líquido (sem frete e impostos) recebido pelo produtor (“média Brasil”, ponderada pelo volume captado em agosto nos sete estados) recuou 1,2% de agosto para setembro, fechando a R$ 0,9844/litro. Na comparação com setembro/14, o preço está 9,9% inferior em termos reais (deflacionados pelo IPCA de agosto/15). O preço bruto médio (inclui frete e impostos) pago pelos laticínios/cooperativas foi de R$ 1,0667/litro, redução de 1,62% em relação ao mês anterior.
 
Conforme pesquisadores do Cepea, as quedas foram influenciadas, principalmente, pelo aumento da captação em todos os estados que compõem a “média Brasil” e também pela demanda enfraquecida por derivados lácteos. Em algumas praças, no entanto, há competição entre laticínios por produtores e isso ajudou a manter a estabilidade ou mesmo a proporcionar elevação dos preços nessas localidades.
 
Em agosto/15, o Índice de Captação do Cepea (ICAP-L/Cepea) teve alta de 4,62% em relação a julho e de 8,0% na comparação com agosto/14. Santa Catarina teve o maior aumento de captação, de 12,3%, seguido por Goiás (8,1%), Paraná (6,2%), São Paulo (4,2%), Bahia (2,8%), Rio Grande do Sul (2,5%) e Minas Gerais (1,5%).
 
Expectativa 

Para o próximo mês, a expectativa da maior parte dos representantes de laticínios/cooperativas é de queda nos preços. Entre os compradores consultados pelo Cepea, 85,4% deles, que representam 93,9% do leite amostrado, acreditam que haverá novo recuo em outubro, enquanto apenas 14,6% dos agentes, que representam 6,1% do volume captado, sinalizam estabilidade para o próximo mês. Essas expectativas refletem o aumento da disponibilidade de leite nas principais regiões produtoras, principalmente nos estados da região Sul.
 
Levantamentos do Cepea também sobre derivados lácteos negociados no segmento atacadista do estado de São Paulo mostram que o leite UHT e a muçarela se desvalorizaram em setembro pelo terceiro mês seguido. Agentes desse mercado relatam aumento dos estoques por parte da indústria e a necessidade de “promoções” no fim do mês para compensar a falta de demanda que tem sido observada. Com isso, muitas empresas tentam baixar seus estoques, o que influencia na queda dos preços.
 
Em setembro (até o dia 29), o leite UHT teve média de R$ 2,2458/litro e o queijo muçarela, de R$ 13,7817/kg, quedas de 2,96% e 1,28%, respectivamente, em relação a agosto/15. Esta pesquisa de derivados do Cepea é realizada diariamente com laticínios e atacadistas e tem o apoio financeiro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

Produção mundial

O ajuste na produção mundial de leite deve sustentar os preços do produto em 2016 tanto no mercado externo como no interno, na avaliação de Rafael Ribeiro, coordenador da Divisão de Pecuária Leiteira da Scot Consultoria. No entanto, segundo ele, o produtor deve ser comedido, pois há uma limitação no setor por causa do impacto da crise econômica no consumo brasileiro e ainda da alta nos custos de produção pela disparada do dólar.

O ajuste na oferta internacional de leite em pó ocorreu após a queda na importação chinesa, que levou os preços internacionais a caírem de US$ 5 mil a tonelada para US$ 1,6 mil a tonelada. Com a redução recente de 30% na oferta, os preços subiram para em torno de US$ 2,5 mil a tonelada. No mercado interno, os preços pagos ao produtor tiveram queda de 9,4% média e o custo de produção subiu 8,8% entre 2014 e 2015, segundo a Scot.

– A valorização do leite no período da entressafra, que chegou a 22,2% em 2013 e tinha uma alta média de 15% nos anos anteriores, foi de apenas 6,5% em 2014 e de 9,9% em 2015 – disse Ribeiro. Com esse cenário, a oferta de leite no primeiro semestre de 2015 no Brasil foi 1,8% menor ante igual período de 2014, cuja captação tinha subido 5,1% sobre a primeira metade de 2013.

Ainda segundo o coordenador de Pecuária Leiteira da Scot Consultoria, a margem para o pecuarista só não foi pior porque no fim do primeiro semestre o custo de produção foi mais baixo, com recuos nos preços de milho, fertilizantes e suplementos. 

– Mas, no segundo semestre o cenário é inverso, devendo continuar até o início de 2016 – disse. 

Levantamento junto aos produtores feitos pela Scot aponta uma expectativa de queda de preços de 6,9% até o fim do ano.